Foto de João Viana
Das memórias de infância mais gratas que tenho é de passear de mão dada com o meu pai nas praias de Vila do Conde e da Póvoa de Varzim.
Enquanto a minha mãe e as minhas irmãs se "espraiavam ao sol", eu e o meu pai acompanhávamos com um fascínio indescritível a chegada dos "homens do mar".
Recordo-me do meu pai dizer que era das profissões mais duras e perigosas do mundo.
Recordo-me das mãos calejadas e dos vincos da rugas nos rostos.
Recordo-me da dança dos peixes nas redes ao som das ondas que beijavam a areia.
Recordo-me das saias das varinas e dos seus xailes negros, alguns deles seguros no largo travessão preto que segurava a rede enrolada nos cabelos.
Recordo-me do odor. O odor a peixe fresco misturado com o cheiro a maresia.
Recordo-me das cordas que puxavam o barco para porto seguro.
Recordo-me das ladaínhas, das quais nada entendia, que terminava sempre com a venda de um cesto de peixe.
Recordo-me da dor da espera pela boa-nova que quase sempre terminava em desgraça.
Recordo-me de ter sido nessa altura que ganhei um respeito enorme por estes homens.
Talvez por todas estas recordações não consegui parar as lágrimas de alegria por saber que eles tinham regressado a casa.
2 comentários:
Gostei de te ler. Porém, quem fica imune às imagens passadas no telejornal? Acho que ninguém. Pois são pessoas de fibra, de luta constante e isso, é de louvar.
Kiss
:)
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