
A partir de amanhã e até sábado estarei em Bragança em trabalho.
Esperam-me dias cansativos mas a boa companhia e o programa nocturno que este ano destinaram para os congressistas vão permitir que relaxe um pouco destas últimas semanas.
E, já agora, vejam se limpam o pó a esta sala de estar de vez em quando.
Amanhã de manhã deixo a chave debaixo do tapete para vocês entrarem.
Em cima da mesa está um chocolate para o meu querido amigo Calvin que amanhã faz anos.
Para os outros deixo um livro de poemas de Eugénio de Andrade.
Se quiserem ouvir música, é só ligar o aparelho que está no móvel da direita.
Fiquem bem. Vou ficar a pensar em vocês.
Às vezes tu dizias:
os teus olhos são peixes verdes!
E eu acreditava.
Acreditava, porque a teu lado todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos.
Era no tempo em que o teu corpo era um aquário.
Era no tempo em que os meus olhos eram os tais peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade.
Uns olhos como todos os outros. J
á gastamos as palavras.
Quando agora digo, meu amor...
já não se passa absolutamente nada.
E, no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome no silêncio do meu coração.
Não temos nada para dar.
Dentro de ti não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse as palavras estão gastas.