domingo, 15 de maio de 2011

Olho por olho...






"Uma mulher que ficou desfigurada e cega depois de o  homem com quem recusou casar lhe ter atirado ácido para a cara conseguiu, em tribunal, o direito à vingança














Numa aplicação literal - e muito polémica - da lei do "olho por olho,
dente por dente", o Irão prepara-se, pela primeira vez, para cegar
um homem com ácido, depois de este ter sido considerado culpado
de fazer o mesmo a uma mulher com querm queria casar.


Majid Movahedi, 30 anos, deverá ser posto inconsciente no hospital
judiciário de Teerão, enquanto a sua vítima, Ameneh Bahrami,
lhe deita ácido nos dois olhos. Bahrami pediu em tribunal para
aplicar a lei do "olho por olho", depois de ter ficado cega
e desfigurada em 2004."

(notícia daqui)


Numa sociedade como a do Irão não deixei de ficar surpreendida
com o facto de um Tribunal do Irão dar "razão" a uma mulher,
porquanto a desigualdade entre sexos naquele País é uma realidade.

Mas, sinceramente, questiono se mutilar um ser humano é um direito.
Independentemente do que ela tenha sofrido e continue a sofrer.

Será que o sofrimento dela vai diminuir?

Ela vai sentir "prazer" quando lançar o ácido numa pessoa que,
ainda por cima, está sedado?

Ela vai esquecer?

Ela vai-se sentir feliz?


11 comentários:

Abobrinha disse...

Entretanto cá,considera-se que um psiquiatra que viola uma paciente grávida e deprimida não é culpado de violação porque o acto não foi suficientemente violento...

Pink Poison disse...

Pensei isso mesmo quando comecei a praticar uma luta de defesa pessoal. Fui vítima de violência domêstica e com golpes de Kung Fu, agora eu sei uma luta e pensei que lhe ia dar uma surra... Mas sim... não me ia tirar as dores que sinto na perna, o derrame, apena stenho a acerteza que a vontade já foi muita. Agora sei que me sei defender mas espero que de ninuém que diz amar-me...
Essa mulher vai ficar desfigurada, entendo a raiva dela mas sendo assim, ele não estava insconsciente e sofria o que ela sofreu.

NI disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
NI disse...

Abobrinha, quando saíu a sentença estava com um casal de amigos, ambos juízes, e comentámos a decisão (de forma genérica porque não tínhamos lido todo o Acórdão). A certa altura comentei que um dos problemas era o facto dos membros do STJ serem maioritariamente do sexo masculino e com mais de 60 anos, até que o meu amigo me calou dizendo que o relator do processo era uma mulher. Mais tarde li o Acórdão. Apenas direi que não concordo com a fundamentação encontrada.

pink, em primeiro lugar lamento que tenhas passado por uma experiência dessa natureza. Quando exercia a advocacia tive, infelizmente, alguns casos de violência doméstica. Conheço alguns dos traumas que algumas mulheres mantêm ao longo dos anos. Mas sei que elas não conseguiam levar a vida em frente se estivessem presas ao passado. A maior "vingança" que podem assumir é prosseguir com a vida delas. Sinceramente, não sei se ela conseguirá seguir com a vida em frente com o tipo de vingança que escolheu. Mas a minha opinião resulta dos valores em que acredito como, por exemplo, ser contra a pena de morte (apesar de por vezes me deixar levar momentâneamente pela emoção e exclamar perante uma notícia macabra - "aquele sujeito merecia a pena de morte").

E, sim, tens razão, se era para ele sofrer as mesmas dores teria que estar consciente.

Francisco o Pensador disse...

Não Nina, por mais que viva e por ácido que deite nos olhos do agressor, nada apagará a sua dor.
Ela jamais conseguirá esquecer o abuso de que foi alvo e jamais será feliz.
Mas também não é uma sentença inútil. Que mais não seja, servirá para dissuadir a prática de outros crimes desta natureza, num país onde o valor da mulher permanece desde há milénios, ao mesmo nível do Porco ou do Cão.

Com esta sentença, poderemos estar a assistir também a um novo despertar de consciências em povos com forte presença/influência islâmica.

Se ela foi regada com ácido quando se negou a casar com esse tal Ameneh Bahrami, é porque ele já vinha equipado com ele na altura. Se vinha equipado, é porque já contava receber um "Não" da boca dela e queria castigá-la por isso, logo, ele nunca teve intenções de casar com essa mulher, só queria exibir-se e ter um pretexto para fazer-lhe mal.
Assim sendo, considero que esta mulher foi extremamente carajosa e que deve seguir com o seu sentido de justiça até ao fim.

Bjs

NI disse...

Francisco, mantenho as minhas reservas quanto ao princípio "olho por olho, dente por dente".

Bj

Francisco o Pensador disse...

É o princípio mais justo que existe. Assim, o agressor ficará a conhecer a real dimensão do sofrimento que causou.
Que outro método esperarias Nina? y ou x anos de cadeia como pagamento por uma vida totalmente destruída?
Isso colocaria-nos logo a questão interessante de saber o quanto valeria uma vida humana, certo?
E, tal como disse no meu comentário anterior, se vivermos num país onde a vida da mulher tem um valor equiparado ao Cão e ao Porco, que proporcionalidade poderiamos esperar receber da parte da justiça Iraniana para o crime em questão?

O princípio do "Olho por olho, dente por dente" foi a única forma que essa mulher encontrou para fazer justiça.
E essa será talvez a forma mais eficiente de salvar muitas outras mulheres musulmanas espalhadas pelo mundo, que vivem na barbárie e são sujeitas diariamente a todo o tipo de abusos.

Lembras-te daquela miúda que ficou sem o nariz e as orelhas por ter sido desobediente ao marido?
Imaginarias que repercussões teria no mundo Árabe se esse marido também fosse condenado a ficar sem o nariz e as orelhas?
Chama-se a isso evolução. Os paises desenvolvidos também já passaram por isso no passado antes de se tornarem naquilo que são hoje. Não tenho a menor dúvida de que as mulheres do médio-oriente já estão saturadas de ser tratadas que nem cadelas e carne para canhão e preferem morrer logo de uma vez do que viverem mortas.

NI disse...

Sempre defendi que um nível de um País se avalia pelo grau de justiça e e de educação que apresenta. Uma sentença tardia e desproporcionada (como é corrente no nosso País) não é justa.

A sentença de morte não é justiça (não posso cometer um crime sufragado por uma lei que proíbe, ela mesma, o homicídio), independentemente das emoções que um homicídio provoca.

O mesmo argumento serve para o caso vertente.

Apesar de os dois já termos tido longas conversas sobre o tema, e de termos opiniões divergentes sobre a matéria, ainda não consegui encontrar argumentos suficientes que abalem a minha convicção.

Nota 1 - Apesar de entender a mensagem que o livro de Konsalik pretende transmitir e do qual já falámos.

Nota 2 - E apesar de saber que não me vais deixar sem resposta.

:)

Beijo

A Minha Essência disse...

Nem tenho palavras, mas nada paga/apaga a dor e o trauma vivido.

Kiss

só 1 mulher disse...

Nem imagino o sofrimento daquela mulher... realmente só quem passa pelas situações é que as pode avaliar, no entanto, não me parece que a sentença vá tirar o sofrimento já passado, poderá eventualmente causar remorso, não sei, depende da pessoa, uma coisa é certa... não me parece que irá funcionar como vingança, afinal de contas vai estar sedado.

sem dúvida muito polémico

1 beijinho

NI disse...

Essência, a violência gratuíta deixa-nos sempre com poucas palavras.

só 1 mulher, concordo.

Beijos

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