sexta-feira, 25 de abril de 2014

25 de Abril...sempre!



Imagem daqui



Tinha nove anos.

 
Estava nas aulas quando vieram avisar a professora de que tínhamos todos de ir para casa. Tínhamos que ir rápidos e sem falar com ninguém.

 
A imagem que retenho é de me estar a aproximar de casa e ver a minha mãe na janela do quarto a dizer para ir mais depressa.

 
Cheguei a casa. A minha mãe olhou para mim e disse-me: "Filha, se tudo correr bem, o pai vem para casa."

 
Não retirámos os olhos da televisão sempre à espera de ver a cara dele à saída daqueles portões.

 
Só o veríamos no dia seguinte.

 
Hoje, com 49 anos de idade posso dizer:

Nasci antes de ser implementada a democracia.

 
Vi nascer a democracia.

 
Vibrei com os sorrisos das pessoas no primeiro acto eleitoral pós 25 de Abril.

 
Assisti à união dos portugueses para manter a democracia.

 
Trabalho desde os 16 anos de idade.

 
 Partilhei os sacrifícios quando da intervenção do FMI em 1977 e em 1983.

 
Convivi, nos últimos anos, com o egoísmo, o individualismo, a ausência de ética profissional, a falta de "coluna vertebral", a ignomínia, a corrupção, a cunha, a protecção e a elevação de "boys e girl´s" em detrimento da qualidade profissional.

 
Hoje, vejo a ausência de esperança no olhar das pessoas.

 
Hoje, este não é o País pelo qual o meu pai e milhares de portugueses lutaram.

 
Hoje, como antes do 25 de Abril, este tema é apropriado.
 
 

3 comentários:

Petra disse...

A democracia está muito deturpada... Estou feliz com o 25 de abril de 74, não com o presente...

Ricardo Santos disse...

NI partilho da tua opinião inteiramente ! Ainda vivi um pouco antes do 25 de Abril, ainda estive mobilizado para Angola, felizmente não aconteceu, porque angola estava independente e o 25 de Abril já se tinha dado.
Acho que adormecemos e passámos muito tempo a discutir coisas menos importantes. Não sei se esta classe política é que é má, se nós mesmo nós ! Estamos embasbacados pela tecnologia e, por coisas que não interessam para nada, em vez de lutarmos, se calhar, na rua !

Suricate disse...

Acho que nunca vivi um 25 de Abril de reflexão como este. Somos muitos a partilhar o teu sentimento, NI...mas não vejo ninguém com coragem para avançar. Estou de mangas arregaçadas, pronta para o que for preciso. Mas esta revolta que todos sentimos não sai da surdina e da boca pequena.

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