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Tinha nove
anos.
Estava nas
aulas quando vieram avisar a professora de que tínhamos todos de ir para casa.
Tínhamos que ir rápidos e sem falar com ninguém.
Cheguei a
casa. A minha mãe olhou para mim e disse-me: "Filha, se tudo correr bem, o
pai vem para casa."
Não
retirámos os olhos da televisão sempre à espera de ver a cara dele à saída
daqueles portões.
Hoje, com 49 anos de idade
posso dizer:
Nasci antes
de ser implementada a democracia.
Vi nascer a
democracia.
Vibrei com
os sorrisos das pessoas no primeiro acto eleitoral pós 25 de Abril.
Assisti à
união dos portugueses para manter a democracia.
Trabalho
desde os 16 anos de idade.
Partilhei os
sacrifícios quando da intervenção do FMI em 1977 e em 1983.
Convivi, nos
últimos anos, com o egoísmo, o individualismo, a ausência de ética
profissional, a falta de "coluna vertebral", a ignomínia, a
corrupção, a cunha, a protecção e a elevação de "boys e girl´s" em
detrimento da qualidade profissional.
Hoje, vejo a
ausência de esperança no olhar das pessoas.
Hoje, este
não é o País pelo qual o meu pai e milhares de portugueses lutaram.
Hoje, como antes do 25 de Abril, este tema é
apropriado.
3 comentários:
A democracia está muito deturpada... Estou feliz com o 25 de abril de 74, não com o presente...
NI partilho da tua opinião inteiramente ! Ainda vivi um pouco antes do 25 de Abril, ainda estive mobilizado para Angola, felizmente não aconteceu, porque angola estava independente e o 25 de Abril já se tinha dado.
Acho que adormecemos e passámos muito tempo a discutir coisas menos importantes. Não sei se esta classe política é que é má, se nós mesmo nós ! Estamos embasbacados pela tecnologia e, por coisas que não interessam para nada, em vez de lutarmos, se calhar, na rua !
Acho que nunca vivi um 25 de Abril de reflexão como este. Somos muitos a partilhar o teu sentimento, NI...mas não vejo ninguém com coragem para avançar. Estou de mangas arregaçadas, pronta para o que for preciso. Mas esta revolta que todos sentimos não sai da surdina e da boca pequena.
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