domingo, 3 de maio de 2009

Porquê casar? Não será mais simples viver juntos?



"Devia-se estar sempre apaixonado. É a razão pela qual nunca nos devíamos casar."
Óscar Wilde

Eis uma afirmação que nos obriga a reflectir. É óbvio que para quem nunca casou, ou se casou há pouco tempo, ou, ainda, para quem tem um casamento durante o qual ainda não tenha ocorrido uma “crise”, obviamente responderá que não está de acordo.

Mas a resposta será assim tão linear?

Será que é possível duas pessoas estarem casados 10, 20, 30 anos e mais e manter acesa a paixão? E o amor? E a amizade?

Admitindo que com o tempo a paixão se vai desvanecendo, será que fica o amor? Mas o que é isso do amor?

Será que fica apenas a amizade?

Sinceramente não tenho resposta pela simples razão que um casamento, durante o seu percurso, é envolvido por todos os sentimentos.

Isto é, creio que ao longo do casamento os parceiros sentem um conjunto de sentimentos que podem não ser cumulativos num mesmo período. Numa fase podemos sentir paixão, numa outra amor (seja lá o que isto representa), numa outra podemos sentir apenas amizade ou mesmo enfado e questionarmos se não estamos a perder tempo.

Quiçá, o ser humano é um ser complicado e com tendência para confundir sentimentos.

Mas o tema de hoje não é o amor (pelo menos directamente). Hoje vamos falar de uma instituição que dá pelo nome de casamento.



Em conversa com um colega que é casado há 28 anos, chegámos à conclusão que estar casado mais do que 10-15 anos é um verdadeiro estigma. Penso que não haverá nenhuma família que não tenha passado por um processo de divórcio. Ao longo de quase 20 anos desencadeei mais de uma centena de divórcios. Eu própria estou a “conviver” com um processo de divórcio algo complicado na minha família directa.

Mas, a verdade, é que os divórcios tiveram um aumento exponencial nos últimos cinco anos. E, segundo as estatísticas, a maioria ocorre em casamentos que duram 10-12 anos.

Será que se pode atribuir a “culpa” ao facilitismo? É que, hoje em dia, o divórcio “está à distância de um clic”.

Também, mas não só!

Para mim, mais importante que o facilitismo com que hoje em dia é possível fazer um divórcio, é a forma com que um casal encara o próprio casamento.

Eu explico:

Um casamento, legalmente falando, é um simples contrato. Com direitos e obrigações para ambas as partes. Mas as pessoas casavam a pensar no contrato? Excepcionando aqueles que casavam por interesse, a maioria não estava a imaginar que estava a celebrar um simples contrato civil que depende da livre vontade das partes.

Então, porque casavam?

Até meados dos anos 80 as pessoas apaixonavam-se e casavam-se. Objectivo: construir e partilhar uma vida em comum. Se bem que para a maioria das mulheres subsistisse um ideal romântico no casamento (não esquecendo a parte religiosa que ainda tinha alguma importância na altura), a verdade é que ambos partiam para o casamento com expectativas realistas. Sabiam que tinham que trabalhar para construir um projecto a dois. Mais, ainda, ingressavam cedo no mercado de trabalho. Tornavam-se independentes da família nuclear com 20-25 anos e, consequentemente, casavam-se cedo.

E hoje? Os objectivos são os mesmos? O casamento é encarado da mesma forma? Penso que não.

Vejamos:

Cada vez mais, os jovens têm dificuldades em iniciar uma vida independente. Estudam até tarde, têm dificuldade em ingressar no mercado de trabalho e é perfeitamente “normal” assistirmos a pessoas de 30 anos e mais a viverem dependentes dos pais.

Esta dependência económica tem efeitos nefastos porque os jovens começam a criar, inconscientemente, uma dependência emocional. Quando finalmente casam não estão preparados para as dificuldades que um casamento acarreta. Afinal, sempre que tinham uma dificuldade tinham o “amparo” da família nuclear ou dos amigos também eles com o mesmo tipo de experiência.

Também não será alheio o facto de a mulher hoje em dia ter ocupado na sociedade o lugar a que sempre tinha direito e, verdade seja dita, não aceita com passividade o que outras aceitaram em tempos idos. Porque tem outro tipo de educação e postura e, não menos importante, porque a maioria mantém já uma independência económica em relação ao parceiro.

Tudo isto é verdade. Mas não serão as únicas razões.

Sob pena de me chamarem de cínica, muitos dos jovens não vêem o casamento como um projecto a dois.

Parece-me que, pelo contrário, associam o termo “casamento” não a um contrato, não a um projecto a dois mas….a uma festa de arromba e a uma boa lua-de-mel. Começam a tratar da "festa" com um ano, ano e meio de antecedência. Primeiro marca-se a "quinta", a florista, o fogo de artifício e a banda que vai tocar. E, como os pais geralmente pagam o casamento, é uma boa forma de juntar uma bela maquia para comprar um carro melhor. Nas vésperas pedem ao padre ou ao conservador e ficam aborrecidos quando estes dizem que estão ocupados.

Vamos ser claros. Hoje em dia a maioria das pessoas casa tendo presente que se não der certo existe sempre o divórcio. Assim, à primeira dificuldade, não se luta. Pede-se o divórcio.
E com isso dão a ganhar às inúmeras empresas criadas para fazerem festas de arromba para comemorar o.... divórcio!

16 comentários:

Pétala disse...

Vivi junta 2 anos com alguém com quem sabia que não queria casar. Depois apaixonei-me... e passado 4 meses de namoro fui pedida em casamento, aceitei e ficámos logo a viver juntos. Casámos no ano seguinte, eu não tinha dúvidas nenhumas era o amor da minha vida, vivi o meu dia de casamento completamente apaixonada... sem uma gota de suor de dúvida... era para toda a vida!!!

Hoje, passados 10 anos... são só dúvidas...

...e dói tanto.

BJ

Eu Mesma! disse...

Sinceramente....
e falando por mim... que nunca casei nem nunca vivi com alguém...

eu acho que passados 10, 15 anos .... é possivel que o amor termine mas... a amizade e a cumplicidade que une os casais... é bem mais forte :)

Beijinhos

Eu Mesma! disse...

Ai Pétala....
ser pedida em casamento 4 meses depois demonstra um amor imenso....

as duvidas que estás a passar talvez sejam normais não? O cansaço, o desgaste....

Beijos grandes

Pétala disse...

Muito cansaço, muito desgaste, muita solidão...

...muitas dúvidas.

Não sei se ainda conseguimos ser felizes juntos... não sei se seremos felizes separados... a única dúvida que não tenho é que o vou amar sempre...

BJ

Abobrinha disse...

Ni

Se "estar junto só" for uma maneira simpática de dizer "ouve, eu vou-me embora quando quiser", mas vale calçar umas sapatilhas e pôr-se a caminho.

Se casar for só uma maneira de ter uma festinha e ir vestida de merengue... sinceramente, consigo pensar em melhores maneiras de gastar tanto dinheiro (deitá-lo ao lixo sendo uma delas).

O que interessa mesmo é o compromisso emocional que se está disposto a fazer em cada um dos casos. O resto são mais ou menos papeis...

Abobrinha disse...

Pétala

Há dúvidas e dúvidas. Umas ultrapassam-se, outras não. Mas podes precisar de ajuda profissional para conseguir distinguir uma da outra.

Boa sorte. E tentem ser felizes de algum modo.

E tenta sorrir o mais possível. Manter o máximo de positividade na tua vida. Ajuda, seja qual for a opção que vocês tomem.

Anónimo disse...

Eu imensas vezes penso nessa questão para mim mesma ou discuto-a com outros, e normalmente a conclusão é diferente para ambos os lados. Eu ainda vejo o casamento como uma celebração do amor entre duas pessoas, e infelizmente as pessoas com que falo já se resignaram àquilo que explicaste sobre o casamento como sendo um contrato...

Entristece-me pensar que isso seja assim porque ainda tenho o sonho de me casar um dia, tendo por base a tradição que sempre sustentou esta união...

Nunca casei, claro está, nem vivi junto, mas gostaria que as mentalidades regressassem às origens e percebessem o porquê das coisas.

O cansaço e o desgaste está algo inerente com o passar do tempo, mas dependendo da força de vontade de cada um, acho que há sempre maneiras de contornar o peso dos anos...digo eu que ainda pouco sei...! :)

Acima de tudo acho que essa diferenciação entre o casar e viver junto (esquecendo os aspectos legais) é muito psicológica e fruto da independência e liberdade que se foi criando nas relações humanas. Hoje em dia é fácil ter "acesso" a uma "relação", ao contrario do tempo dos nossos pais, avós e por aí adiante. O amor e o compromisso são cada vez menos valorizados devido às facilidades que os tempos actuais oferecem...

Embora tenha alguns aspectos positivos, outros importantes se "perderam" como por exemplo fazer a "corte", o respeito ou o dar valor... e já me estiquei! LOL :D

Beijinhos e boa semana*

Sadeek disse...

Ni...o casamento é uma assinatura. Nada mais. O facto de viveres junta com alguém 15, 20, 25 anos, estejas casada ou não, não mexe com o sentimento. Portanto esta afirmação não tem grande lógica...

Hoje há mais divórcios, é um facto. Mas porque há-de isso ser uma coisa má? Certo que talvez aconteça porque as pessoas não tentam lutar pela relação. Mas quantas e quantas pessoas viviam infelizes por terem vergonha de se separarem? Nunguém é obrigado a estar com alguém. Ninguém merece ser infeliz...

BEIJOOOOOOOOOOOOOOOOOS

NI disse...

Eu Mesma, completamente de acordo.

Pétala, poderá ser simplesmente uma fase (e eu já tive muitas semelhantes), ou não. Não é uma situação fácil de gerir. A primeira questão que tens colocar é: vale a pena lutar por esta relação? Se a resposta for positiva, e só será se ambos estiverem imbuídos do mesmo espírito, então luta com unhas e dentes. Se vires que da outra parte não há correspondência, então não vale a pena. Há que saber dizer adeus com toda a dignidade.

Abobrinha, estou de acordo contigo. Daí a questão colocada. É que parece-me que hoje em dia o compromisso emocional é relevado para último.

Espelho meu, em post's mais antigos defendi que era possível amar mais do que uma vez e que não acreditava no amor para sempre. Na altura, recordo-me, "levei forte e feio" :-)

Mas hoje continuo com a mesma opinião. E, de facto, há alturas em que o cansaço e o desgaste só podem ser ultrapassados com o empenho de ambos desde que a amizade e a cumplicidade (pedras basilares numa relação) se mantenham. Apesar de ser uma romântica assumida (cada vez menos, confesso), não acredito no amor para sempre.

Sadeek, concordo igualmente contigo. E é verdade que ninguém merece ser infeliz mas, muitas vezes, fazemos opções que vão para lá do nosso "egoísmo". De facto, uma relação pode prevalecer por motivos que em determinado momento são mais importantes do que a nossa felicidade pessoal.


Beijos a todos

Paulo Lontro disse...

Há um ponto pertinente que ainda não foi focado, haver ou não haver um ou mais filhos na relação… até que ponto isso pode pesar na relação, na sua continuação ou no seu fim?
Vivi 5 anos casado e nunca me senti casado, vivo há 10 anos junto e nunca me senti tão casado…
Há mais de 15 anos estudava e trabalhava na Dinamarca, já na altura a percentagem de divórcios era enorme. Os jovens saem de casa dos pais pelos 15, 16 anos ou seja não passam pelas “lutas” da adolescência, as discussões do ter ou não ter chave, poder ou não poder sair à noite, aquela idade onde se aprende a conquistar, onde se aprende a discutir, a chegar ao meio termo, ao acordo.
Nada me tira da ideia que essas “lutas” são úteis mais tarde, quando se tem um parceiro e se volta tantas vezes ao mesmo tipo de”lutas” e acordos.
Na Dinamarca eu não via as pessoas a chegarem a acordos, via-os a separarem-se por coisas que aqui em Portugal 10 minutos de conversa chegavam e sobravam para tudo sanar.
Este tema dá pano para mangas e depende de tantas variantes desde a educação às noções de moral passando pela situação económica de cada um, um sem-fim de motivações.

Sadeek disse...

Ni...não acho que seja uma atitude correcta. O facto de se estar infeliz, por si mesmo, já nos vai impedir (mesmo que inconscientemente) de fazer os outros felizes....ou pelo menos tão felizes quanto poderiam ser caso estivessemos felizes. Não acho que seja um acto de egoismo querer o melhor para nós mesmos...no que toca a sentimentos e felicidade, claro... ;)

BEIJOOOOOOOOOOOOOOS

NI disse...

Paulo, quando afirmei que uma relação pode prevalecer por motivos que em determinado momento são mais importantes do que a nossa felicidade pessoal, estava a pensar nos filhos.

Sadeek, acredita no que te digo: uma pessoa pode estar infeliz e fazer os outros felizes. Há pessoas que se dão mesmo sabendo que não vão receber nada em troca.

Beijos

VCosta disse...

Estou junto vai à 10 meses!!!
Para mim casar estava fora de questão!
Infelizmente ainda vivemos de um mundo de aparência e julgamentos!
Cresci a ouvir, não vens ao casamento do meu filho também não irei aos dos teus!
Ok?!-pensei eu! - Também não ides ter a chance de recusar!!!
Um "casamento" é muito caro e se há pais que podem pagar, existem muitos outros que não.
Contra a vontade (inicial) dos meus pais, juntei-me e expliquei-lhes que não teria dinheiro para organizar nada do que a familia e o povo em geral estaria habituado.
Existe muita "fachada" no nosso país!
Não creio que um casamento degure o amor entre o casal como também não creio que o facto de uma pessoa se juntar seja já um acto de futuro de divórcio!
O amor "perde-se" com o tempo, fica a amizade, confiança, o respeito e a cúmplicidade... Estes sim, julgo serem os valores fundamentais para um casamento!

NI disse...

VCosta, não poderia estar mais de acordo.

euqrop disse...

Uma resposta a este assunto que é do foro sentimental está sempre sujeito à vivência das pessoas( tanto passado como presente) por isso é que acho piada que embora aja nestes comentários repostas tão diferentes concordo com quase todos na integra.

(agora a minha opinião)
Para mim o casamento é apenas um papel... já vivi com uma pessoas durante alguns anos e fiz tudo o que as pessoas casadas fizeram, apenas não assinei o papel, mas como a vida vai mudando, as pessoas vão crescendo ( sim, porque as pessoas vão sempre crescendo) a nossa maneira de ver o mundo mudou e teve um fim... não penso que o facto de ter assinado um papel tivesse mudado algo, antes pelo contrario.

Quanto ao porque dos divórcios estarem a aumentar... as pessoas vão sempre crescendo mas hoje em dia penso que crescem muito devagarinho, prendem-se a bens em vez de valores, querem viver a vida esquecendo-se muitas vezes do respeito que devem ter pelo outro... porque a partir do momento em que temos uma relação deixo de ser só EU e passa a haver um Nós também.

(desculpem pelo discurso)

NI disse...

Euqrop, antes de mais, bem vindo a esta sala de estar!

É como referes, e bem, apesar de opiniões díspares acabamos por concordar com quase todas. E, para não fugir à regra, concordo com a tua opinião.

:-)

Nota - Aqui não precisas de pedir desculpa, muito menos por dares a tua opinião.

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