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"Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso.
Nunca se sabe qual é o defeito
que sustenta nosso edifício inteiro."
Clarice Lispector
Se me pedissem para enumerar os meus defeitos mais evidentes eu diria que são essencialmente estes:
- A minha incapacidade de perdoar. Quando corto com alguém ou com algo é definitivo. Mesmo que depois me venha a arrepender, não volto atrás. Há quem chame de orgulho. Não penso que seja uma questão de orgulho porque, se assim fosse teria que ser uma pessoa vaidosa, altiva, soberba e com um ego desmesurado o que, e quem me conhece sabe, eu não sou. É mesmo uma incapacidade natural de perdoar. Não consigo perdoar deslealdades nem traições (de qualquer espécie).
- Fugir das discussões mesmo quando tenho a certeza de que tenho razão ou vou ficar prejudicada. Porque só aceito conversar. Discussões estéreis abominam-me mesmo que tenha consciência que me vou prejudicar por esse facto. E então quando do outro lado está alguém prepotente...bom, o melhor é mesmo terminar por ali e ir-me embora porque tenho consciência que se ficar posso perder as "estribeiras".
- Ser inflexível com "xicos-espertos", "compadrios", "cunhas" e afins. Já me trouxe bastantes dissabores. Para mim, as leis não foram feitas para serem violadas. Foram feitas para serem cumpridas. As pessoas têm toda a legitimidade de lutar pelo que desejam. Mas através do mérito e esforço próprios e nunca por "contornar" a lei e a ética.
Na maioria das vezes não nos preocupamos em analisar os nossos defeitos. Penso que tal acontece porque eles incomodam mais aos outros do que a nós próprios. Ou melhor, estamos mais atentos aos defeitos dos outros do que aos nossos.
Mas também estou convencida que a nossa dificuldade em nos entregarmos tem muito a ver com o medo de que descubram os nossos defeitos. Porque ninguém gosta de ver os seus defeitos descobertos.
O problema desta nossa tentativa, (insana, digo eu, porque é difícil esconder o nosso verdadeiro "eu" a toda as pessoas durante toda a nossa vida), é que o nosso maior defeito pode constituir a base das nossas melhores virtudes e apetências desde que tenhamos a capacidade de o assumir e retirar dele o que de melhor ele tem.
Ora, na verdade, os meus defeitos definem-me. Constituem a minha "coluna vertebral" a par de algumas virtudes que também me definem e que, no fundo, são a consequência natural dos meus defeitos.
9 comentários:
Revejo-me nalguns desses defeitos, outros nem sei se os considere como defeitos! :)
Há piores... :) ainda te safas!! ;)
Beijinho*
A Clarice é uma mulher sábia!
Os nossos defeitos e virtudes são as características que nos defínem... que nos tornam únicos.
Se sabemos lidar com os nossos defeitos? Pois, se calhar é mesmo isso que dizes... os nossos defeitos afectam mais os outros que nós próprios.
Mas estamos sempre a tempo de mudar... porque o ser humano evoluiu... e na maioria dos casos evolui para melhor.
(pronto ok... eu sou uma optimista por natureza) :)
Beijinhos optimistas
Sou muito orgulhosa,e prefiro quebrar a torcer, sou muito teimosa também, e dificilmente esqueço alguma coisa...até posso perdoar, mas esquecer nunca.
Lido muito mal com gente mal educada, sem nível, com gente oportunista e armada em esperta, e gente má também tira-me do sério...fujo deles a sete pés:)
Beijo*
Eu perdoar, até perdoa... mas não consigo esquecer o mal que me fazem. Tu és uma grande mulher.
Pelo que me apercebi és jurista.
O ponto 2 e 3 parece-me que não se enquadram muito com a tua actividade...."fugir das discussões e inflexivel" é contraditorio com o teu dia a dia.
Bom mas afirmares que "as leis são para serem cumpridas" valha-me deus não queremos mais um desempregado..
è só uma opiniao ou então interpretei mal as tuas afirmações
Confuskos, há piores e há melhores. :)
Orquídea, apesar de tudo partilho do teu optimismo. :)
AC, subscrevo o teu último parágrafo.
S*, o problema é que para mim perdoar implica, esquecer. Caso contrário está-se a "atirar" na primeira oportunidade.
toto61, pode parecer uma incoerência mas penso que, pelo contrário, a minha formação tem muito a ver com a minha forma de ser. Desde que me recordo que sempre disse que queria ser advogada. Recordo-me do meu falecido pai ter dito a determinada altura que eu iria ter muitas desilusões. Quando lhe perguntei porquê ele disse-me que eu tinha um sentido de justiça "apurado de mais". Devo dizer que exerci a advocacia durante 20 anos como defensora oficiosa em processos crime, em paralelo com a o trabalho como jurista. Gostei do que fazia. Na barra do tribunal luta-se pela justiça e pela boa aplicação de leis. Não há discussões estéreis. Há argumentos e contra-argumentos. E se é verdade que os advogados existem porque há quem viole a lei, não é menos verdade que todos devem pugnar pela boa aplicação da lei. No fundo, que se faça justiça. Se apanhei desilusões? Apanhei. Muitas.
Quanto ao ponto 3, é curioso que as situações que descrevo são mais comuns nas relações de uns com os outros e nas relações laborais e não no âmbito do exercício da minha profissão.
:)
Beijos a todos
Curioso, nunca me preocupei em esconder o "eu", como lhe chamas. O 'outro' pode não gostar da nossa personalidade e nesse caso, porquê adiar o inevitável?
Não gosto de perder tempo ...
Quanto às discussões, concordo que não valem a pena. Mas vale ir dormir uma noite e arrumar o assunto, e esclarecer no dia seguinte. Para mim, dormir resolve tudo.
Abraço
Partilhamos dois defeitos! :-)
Eu também não perdoo, nem esqueço! Há muitooo tempooo que acabaram as segundas oportunidades!
Também não gosto, aliás, detesto, gente esperta e, pior, armada em esperta! E compadres é uma coisa campestre e eu sou urbana; e cunhas, só das botas! :-)
Agora não fujo de discussões quando tenho a certeza que tenho razão!
Mas, pronto, eu sou um poço de defeitos, ocuparia o teu espaço de comentários a enumerar os meus defeitos, e depois mais ninguém comentava! :-)
me identifiquei com o texto, mas nem me prezo fazer uma "lista" assim... posso me surpreender...
você escreve bem e o blog é bem diversificado e divertido.
http://lapsosdeumamentebipolar.blogspot.com.br/2012/04/desistir.html
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