segunda-feira, 3 de maio de 2010

O valioso tempo dos maduros...



Recordo-me de na passagem de mais um ano ter pedido duas coisas: saúde e manter os meus amigos. Mas este ano tem sido um ano de viragem. Um ano de crescimento pessoal.

Consigo identificar, com toda a precisão, os factos (e a idade que eu tinha quando os mesmo ocorreram) que provocaram uma evolução emocional profunda na minha forma de estar e de ser.

A passagem dos meus 45 anos constitui um desses marcos. Não por ter coincidido com uma das alturas mais difíceis da minha vida. Mas pela forma como tive que encarar os acontecimentos que ocorreram.

Se é verdade que é nos piores acontecimentos da minha vida que encontro as forças para avançar, não é menos verdade que senti que tinha chegado ao fim de um ciclo.

Desta vez senti que para avançar tinha que parar e pensar no que tem sido a minha vida até ao momento, do que posso fazer pela minha vida e do que posso esperar dela.

Um quarto de ano passado posso afirmar que em termos de evolução pessoal as alterações foram profundas.

Se me perguntarem se sou a mesma pessoa direi que sim mas as minhas prioridades mudaram e a minha forma de estar na vida também se alterou.

Sem perder o meu sentido de humor, a sensação que tenho é que amadureci bastante nestes últimos quatro meses.

Todos os dias leio um texto de Mário de Andrade. De certa forma, ele retrata a forma como pretendo avançar.

"Contei meus anos e descobri que terei menos tempo
para viver daqui
para a frente do que já vivi até agora.
Tenho muito mais passado do que futuro.

Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas..

As primeiras, ele chupou displicente,
mas percebendo que faltam
poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.

Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.

Inquieto-me com invejosos tentando destruir
quem eles admiram,
cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis,
para discutir
assuntos inúteis sobre vidas alheias
que nem fazem parte da minha.

Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas,
que apesar
da idade cronológica, são imaturos.
Detesto fazer acareação de desafectos que brigaram
pelo majestoso cargo
de secretário geral do coral.
'As pessoas não debatem conteúdos,
apenas os rótulos'.

Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos,
quero a essência,
minha alma tem pressa...
Sem muitas cerejas na bacia,
quero viver ao lado de gente humana,

muito humana; que sabe rir de seus tropeços,
não se encanta com
triunfos,
não se considera eleita antes da hora,
não foge de sua
mortalidade,
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade,

O essencial faz a vida valer a pena.

E para mim, basta o essencial!"

3 comentários:

Eu Mesma! disse...

O texto é fantastico!

Lena disse...

Bolas, também na minha bacia há poucas cerejas. Por isso, ultimamente, tento não perder tempo e opto por aquilo que quero realmente fazer, sem pensar duas vezes.

só 1 mulher disse...

O texto é lindo Ni.. sou ligeiramente mais nova, mas não me parece que a idade, pelo menos para mim, seja significativa para este sentimento... sei que isto que vou dizer parece uma frase feita, mas a realidade é que te entendo.. estou cansada, de dar e não receber, e de tantas outras coisas, que só em fazem aborrecer e perder tempo.. só gostava de ter um nadinha mais de força, para dar a volta a uma série de coisas, que neste momento não consigo.. mas o tempo vai trazer essa força que preciso

1 beijinho

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