quarta-feira, 19 de setembro de 2007

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Aproveitando uma célebre frase de Óscar Wilde, coloquei um inquérito que ainda está a decorrer.

Devo confessar que ainda não votei. Porquê? ´

Bom, relembremos a frase: "Devia-se estar sempre apaixonado. É a razão pela qual nunca nos devíamos casar."

Eis uma afirmação que nos obriga a reflectir. É óbvio que para quem nunca casou, ou se casou há pouco tempo, ou, ainda, para quem tem um casamento durante o qual ainda não tenha ocorrido uma “crise”, obviamente responderá que não está de acordo.

Mas a resposta será assim tão linear?

Será que é possível duas pessoas estarem casados 10, 20, 30 anos e mais e manter acesa a paixão? E o amor? E a amizade?

Admitindo que com o tempo a paixão se vai desvanecendo, será que fica o amor? Mas o que é isso do amor?

Será que fica apenas a amizade?

Sinceramente não tenho resposta pela simples razão que um casamento, durante o seu percurso, é envolvido por todos os sentimentos.

Isto é, creio que ao longo do casamento os parceiros sentem um conjunto de sentimentos que podem não ser cumulativos num mesmo período. Numa fase podemos sentir paixão, numa outra amor (seja lá o que isto representa), numa outra podemos sentir apenas amizade ou mesmo enfado e questionarmos se não estamos a perder tempo.

Quiçá, o ser humano é um ser complicado e com tendência para confundir sentimentos.

Será que o homem confunde vida com amor? E que é isso de amor? E o que é o casamento?

Será que a vida mata o amor?

Eu, apesar de tudo, quero acreditar no amor. É que não consigo despir as vestes de uma sentimental bacoca.

Deixo-vos, como ponto de reflexão, um texto de Mec:

“ Quero fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria. Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões.

O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas. Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço.

Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá tudo bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?

O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não dá para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. (...)"


7 comentários:

Jasmim disse...

Adoro este texto de MEC, acho que se intitula "O último Romântico", pelos menos foi assim que recebi, através de um Fwd. É simplesmente genial e dá muito que pensar... Concordo que a resposta à tua questão e ao pensamento de Oscar Wilde não é nada linear, antes pelo contrário (e sou casada há 1 ano). Adorei este post, a frase de OW, o texto de MEC e a imagem que colocaste! Perfeito!

NI disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
NI disse...

Obrigado pelas tuas palavras Jasmim. Estava com receio que vissem neste post (e no inquérito), algum cinismo quando apenas tentei transmitir o que, na verdade, eu sinto.

Francisco o Pensador disse...

Ni,estou no pior horário para poder comentar este post e gostaria de me pronunciar amanhã sobre ele,mas deixa-me dizer-te já como "aperitivo" que parece-me évidente que esse MEC não faz a minima ideia do que é o Amor!

Depois explicarei melhor..

Bjs

Francisco o Pensador disse...

Ni,nunca deixo de me surpreender com o estranho mundo de coincidências que liga a nossa amizade.
Esta a viajar na Net (a procura de nús da Laetitia Casta..) e deparei-me com um texto que encaixa de forma sublime na questão que colocastes neste post.

Fiquei radiante de saber,que hoje ia ter a possibilidade de poupar o meu latim...hehehe...

Gostei tanto da narrativa deste texto,que achei que ele seria merecedor de figurar em jeito de post...

Deixei-o preparado no painel de menssagens do blog em forma de rascunho (com 2 imagens).
Analisa-o e decide tu se deve figurar como post ou como mensagem neste post..

Para mim,estás a vontade,já sabes!

Abs

Vanity disse...

Adorei o texto do MEC! Para mim o verdadeiro amor também deve ser assim, impossível, arrebatador, sempre lá para o que der e vier...disposto a sacrifícios.Talvez por acreditar neste amor ainda não tenha encontrado o meu...

NI disse...

Não te preocupes que hás-de encontrar. Só não garanto, ao contrário do Pensador, que ele dure para sempre.

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