A traição tem muitas facetas. Por exemplo, quando traímos os nossos princípios.
Mas isso será tema para outro dia.
Hoje vamos falar da traição que ocorre dentro de uma relação amorosa. Mais propriamente da vossa reacção se soubessem que tinham sido traídos.
A maioria irá dizer que dependia das circunstâncias. Os afectos são assim mesmo.
Mas já pensaram na situação pelo lado mais obscuro que cada um de nós tem?Por exemplo, alguma vez vos passou pela cabeça partir para a violência? Para o "olho por olho, dente por dente"? Para o "pagar com a mesma moeda".
Ou serão hipóteses completamente absurdas e contrárias à vossa maneira de ser?
Questão de genética, ou não, a verdade é que toda a minha família sempre teve problemas de visão.
Daí que desde muito cedo que a visita ao oftalmologista era obrigatória para cada uma das minhas filhas.
Felizmente a mais velha sai ao pai.
A mais nova, confiava eu, também sairia.Engano. Aguentou até aos 12 anos.
Tem exactamente o mesmo problema que eu tive até ser operada e esta semana começará a usar os óculos.
Se para mim foi fácil porque comecei a usar óculos desde os 4 anos, para a minha filha é algo impensável porque, segundo ela, quem é o rapaz que vai olhar para uma "caixa de óculos".
Ainda lhe disse que era pior usar aparelho de dentes mas ela diz que isso é moda e ninguém liga.Vai daí a tentativa inútil de tentar convencer o médico a usar lentes de contacto.
Neste momento, só pensa que os rapazes vão deixar de olhar para ela.
Ontem à noite foi tempo de sondar os amigos sobre o que achavam de uma rapariga usar óculos. Não me disse a opinião do "amigo" mas pela cara que tinha esta manhã...
O pessoal da informática anda a copiar os médicos.
Os médicos quando têm alguma dificuldade em fazer um diagnóstico vêm com a célebre frase: "deve ser uma virose".
Os técnicos de informática quando não sabem resolver um problema utilizam a frase: "´deve ter sido um vírus no servidor".
Ora, a vida é muito injusta. É que eu quando não me apetece fazer um parecer (daqueles chatos como o raio), não posso dizer ao meu chefe que os meus neurónios tiveram uma virose.
"As premissas poderão não ser controversas, mas a conclusão não deve agradar à maioria dos casais: partilhar a cama pode levar a disputas sobre os cobertores ou a discussões a propósito do ressonar, o que implica a perda de horas de sono. A conclusão de um especialista britânico de que mais vale dormir sozinho chega depois de estabelecida uma ligação entre dormir mal e depressão, doenças cardíacas, derrames, distúrbios pulmonares, acidentes de trânsito e industriais e divórcio.
Neil Stanley, criador de um dosprincipais laboratórios para o estudo do sono na Grã-Bretanha, que dorme separado da mulher, argumenta que a moda de partilhar o leito só começou com a Revolução Industrial, por uma questão de espaço em cidades sobrelotadas, e que, antes disso, era raro os casais dormirem juntos..."
Ora aqui está o primeiro tema da semana que começa daqui a pouco.
Será que o "aconchego" de um corpo, uma carícia subtil, um simples olhar, conseguem superar os inconvenientes de um corpo quente no Verão ou de um ressonar que abruptamente nos retira dos braços do Deus Hipnos?
Agora é tempo de relaxar e como tenho esta noite só para mim vou aproveitar para colocar a leitura em dia enquanto ouço um dos meus artistas favoritos.
Aprendi uma coisa: só se conhece realmente uma pessoa depois de uma discussão. Só nessa altura se pode avaliar o seu verdadeiro carácter. Anne Frank
No nosso dia-a-dia partilhámos a nossa vida com um conjunto de pessoas. Nesse conjunto temos aquelas de quem gostámos e aquelas que ou nada nos dizem ou não gostámos. Convivo muito bem com quem nada me diz ou de quem não gosto. É que basta a indiferença para prosseguirmos o nosso caminho.
O problema é quando gostámos de alguém. Aí é que se pode tornar complicado.É que, o que nos leva a gostar de alguém é essencialmente o carácter porque este revela a nossa verdadeira essência. É aquilo que somos.
É certo que quando gostámos de alguém tendemos a valorizar as suas virtudes. Até nos esquecemos que a pessoa é como nós: um ser humano com defeitos e virtudes. Mas queremos lá saber dos defeitos. Este "filtro" leva-nos a idealizar um carácter que assumimos como certo e imutável.
Já aqui afirmei de que um dos meus maiores defeitos é evitar confrontos. Mesmo que fique a perder prefiro dizer alto e bom senso "tens razão" e virar as costas.
Faço-o de forma consciente. É uma das defesas que utilizo para evitar desilusões. É que no meio de um confronto fazem-se afirmações que colocam em causa tudo aquilo que idealizámos sobre essa pessoa. E ninguém gosta de perder alguém de quem gosta.
A ocorrer, é uma das formas mais desagradáveis de crescermos enquanto seres humanos.
depois, pode distorcê-los quanto quiser. Mark Twain
Costumo dizer que mais do que as palavras, os actos demonstram a verdadeira intenção das pessoas.
Já vos aconteceu encontrar alguém que mais do que distorcer os factos, aproveita alegados factos para justificar uma posição que não teve coragem de assumir?
Mais parecem aqueles pescadores que atiram um isco para ver se apanham um peixe.
A diferença é que o anzol não pretende apanhar um peixe...
Conta a história que João terá nascido a 24 de Junho.
Mas o que pouca gente sabe é que, "...segundo os registos do Cancioneiro Português, dos três santos: Santo António, S. João e S. Pedro, São João é o santo menos confiável, por causa da fama de sedutor.
São João fora bom santo se não fora tão gaiato levava as moças para a fonte iam três e vinham quatro."
Sedutor? Está encontrada a razão de ser comemorado à grande no Norte...
Mas, na verdade, "...São João é o Santo mais festejado em todo o país. Pelo menos é o que nos diz o Cancioneiro Popular:
"Até os mouros na Mourama festejam o São João. Quando os mouros o festejam que fará quem é cristão."
Deixo-vos, como não podia deixar de ser, com uma quadras:
"Meu querido São João És um Santo popular Traz teu arco e teu balão Vem com o povo dançar!
Aproveitem bem esta noite... Fica fresco quem se afoita e regala o coração Quem se banhe à meia-noite Da noite de São João.
Delicados pés pisaram Rosmaninhos pelo chão Muitos corações amaram Na noite de São João. "
Um Bom S. João para todos...que esta noite as ruas sejam um rio de afectos e de boa disposição...
Nâo, não vou falar de programas de emagrecimento que ocupam a mente da maioria das pessoas mal os primeiros raios de sol começam a despontar.
O tema é outro.
Uma das minhas séries preferidas dá à segunda-feira no AXN. "
Mentes criminosas" fascina-me pelo argumento, que vai muito além da descrição de crimes e da forma como o perfil dos criminosos é elaborado por um conjunto de especialistas.
Fascinam-me os diálogos que, muitas vezes, passam despercebidos.
Penélope, uma das personagens, representa a inocência. Aquela que não entende, nem quer entender, porque razão um ser humano mata outro. Aquela que acredita na essência do ser humano. Aquela que recusa pensar que há pessoas más por natureza. Talvez por essa razão prefere "esconder-se" atrás de um computador não gostando do trabalho de campo. O computador assume aqui o papel de arma de defesa. Muitas vezes o ser humano prefere fugir a enfrentar o mal de frente, ou, simplesmente, porque se recusa a ser "contaminada" pela maldade...
No episódio de ontem ela é confrontada de frente com o lado negro do ser humano e com a morte e é elogiada por um dos colegas pela força que demonstrou. Ela, depois de dizer que não gosta de violência, que é contra a sua maneira de ser, acrescenta mais ao menos isto: "será que foi força ou simples exaustão"? E questiona: "Será que para exercermos a nossa profissão, fazermos aquilo que gostámos de fazer temos de mudar a nossa personalidade? Tenho medo de estar a transformar-me numa pessoa que não sou".
Essa é a dúvida que tenho tido nas últimas semanas. Será que para vermos o nosso trabalho valorizado temos que mudar a nossa personalidade? Temos que usar formas de "nos fazermos notar" sem ser pelo trabalho que desenvolvemos?
Há uns dias atrás alguém me dizia que a sociedade de hoje nos obriga a ser hipócritas e a fazer "jogos de cintura". Mas a sociedade não somos nós? Não somos nós que exigimos a hipocrisia e os "jogos de cintura"? A verdade é que sou uma lírica quando penso que devemos ser, apenas e tão só, nós mesmos e valorizar aquilo que somos.
Pelo que, por opção, é preferível fazer uma longa travessia no deserto ou, simplesmente, deixar-me ficar quietinha, a contemplar como meio mundo "lixa" meio mundo. Ainda não me conseguiram convencer que a "troca" vale a pena...
Convenhamos, se o homem já ia com aquela cara para o casamento estava à espera de quê?
Mas será que o casamento é um jogo?
Se o entendermos enquanto tal, e se o jogo chegar ao fim sem prolongamentos sucessivos, há vencedores e vencidos? Ou será que termina tudo num simples empate?
"Não há solidão inexpugnável. Todos os caminhos conduzem ao mesmo ponto: à comunicação do que somos. E é necessário atravessar a solidão e aspereza, a incomunicação e o silêncio para chegar ao recinto mágico em que podemos dançar com hesitação ou cantar com melancolia, mas nessa dança ou nessa canção acham-se consumados os mais antigos ritos da consciência; da consciência de serem homens e de acreditarem num destino comum.
Pablo Neruda, in 'Nasci para Nascer' (Discurso na entrega do Prémio Nobel)
Um dos textos que tive que preparar para o espectáculo de folclore dizia respeito a um grupo que vinha de Aller em representação das Astúrias.
Desconhecia o grupo pelo que me limitei, como sempre, a fazer uma pequena introdução histórica das Astúrias e terminar com o historial do próprio grupo.
No final do espectáculo é comum haver um pequeno convívio entre o rancho anfitrião e o grupo que vem do estrangeiro. Ontem não fugiu à regra.
O curioso é que entre as gargalhadas que provocaram as tentativas de ambos os grupos ensinarem as suas próprias danças, e enquanto um dos tocadores lançava os sons da gaita de foles, dei por mim a pensar que todo o esforço do ser humano se resume a não estar só. A partilhar um destino que, quer se queira ou não, é comum: o de viver.
Recordei-me então de um tema que era presença obrigatória num dos programas que tinha na rádio.
O tema é de 1975 mas continuo a gostar dele porque...
"Cantan con voz de hombre, pero donde están los hombres? con ojos de hombre miran, pero donde los hombres? con pecho de hombre sienten, pero donde los hombres?
Cantan, y cuando cantan parece que están solos. Miran, y cuando miran parece que están solos. Sienten, y cuando sienten parecen que están solos. ... Cantad alto, oireis que oyen otros oidos Mirad alto, vereis que miran otros ojos Latid alto, sabreis que palpita otra sangre
No es más hondo el poeta en su oscuro subsuelo encerrado Su canto asciende a más profundo, Cuando abierto en el aire ya es de todos los hombres."
Rafael Alberti
sexta-feira, 18 de junho de 2010
"Saber não ter ilusões é absolutamente necessário para se poder ter sonhos"
Fernando Pessoa, in 'O Livro do Desassossego'
Em termos de trabalho nunca tive ilusões mas já tive sonhos.
Hoje nem sonhos imperfeitos. Apenas a vontade férrea de aguentar um dia de cada vez e, dessa forma, sobreviver no final de cada semana.
Mas hoje o que interessa é que entrámos no fim-de-semana. Amanhã já tenho o dia reservado. Uma vez mais estarei a apresentar o Festival de Folclore.
Quer estejam a trabalhar ou a descansar, um bom fim-de-semana.
Começo por dizer que não gosto da escrita de Saramago mas enquanto portuguesa é óbvio que sinto orgulho de um homem das letras do nosso País ter recebido o Prémio Nobel da Literatura.
Mas também o mereceriam António Lobo Antunes (o Auto dos Danados continua a ser um dos meus livros predilectos), Sofia de Melo Breyner ou Miguel Torga. E se o prémio já existisse em tempos mais longínquos o "meu" Eça de Queirós ou Aquilino Ribeiro, ou, ainda, o incontornável Fernando Pessoa.
A língua portuguesa é das mais ricas do mundo. Felizmente temos autores que a prestigiam.
Saramago, independentemente de gostar dele, ou não, enquanto escritor foi um autor que prestigiou a língua portuguesa. Bastaria isso para a oportunidade deste post.
«Há pessoas a quem os defeitos assentam bem e outras que caem em desgraça apesar das suas boas qualidades» La Rochefoucauld
Todos nós conhecemos alguém que enfrenta a vida de tal forma que nos contagia e que quase nos faz esquecer que é um simples ser humano com defeitos e virtudes.
Isso, claro está, se conseguirmos colocar de lado esta nossa eterna mania de tentar descobrir os defeitos dos outros como forma de fugir dos nossos próprios defeitos.
Mas vamos colocar a nossa capacidade critica a funcionar. Enumerem dois defeitos vossos.
Mas, já agora, duas virtudes para que a balança fique equilibrada.
Então não percam o espectáculo. Para além de decorrer num local fantástico, junto à Serra do Pilar, o espectáculo é gratuíto.
A banda continua a apresentar-se com o líder-fundador e vocalista John Lees (igualmente responsável por uma das guitarras) e pelo também fundador Stuart “Woolly” Wolstenholme que, além da voz e guitarra, foi o responsável pelas teclas do Mellotron – o órgão electro-mecânico celebrizado pelos BJH e que se tornaria símbolo do rock progressivo nos anos 60 e 70os Barclay James Harvest têm um som inconfundível.
“ PARA VENCER NÃO PRECISA DE SER O MELHOR OU O MAIS BRILHANTE,
SÓ TEM QUE FAZER AS COISAS CERTAS ”
DAVID J. LIEBERMAN
Por vezes não é fácil tomarmos decisões ou fazer escolhas.
Nas últimas semanas tive que ponderar se valia a pena fazer a escolha certa ou uma boa escolha.
É que na maioria das vezes a escolha certa não é uma boa escolha. Tenho consciência que a vida me permite neste momento fazer uma escolha certa se pretender manter um dos meus objectivos profissionais. Mas não é, seguramente, uma boa escolha porque terei que esquecer os valores em que acredito.
E, para mim, mais importante que fazer a escolha certa é fazer uma boa escolha. E só será uma boa escolha se estiver de acordo com os valores em que acredito e pelos quais sempre lutei. Para mim isto é que é ser intelectualmente honesto.
Eu acredito na amizade, na lealdade, na solidariedade, no respeito pelo próximo, no reconhecimento colectivo pelo mérito do trabalho e não qualquer outro.
A amizade, por exemplo, não tem um sentido hoje e outro amanhã. Ou há amizade, ou não há. Ponto final. Na amizade não se fazem sacrificios. Na amizade dá-se sem esperar nada em troca e sem arrependimentos.
A lealdade não é uma palavra vã. Recuso-me a quebrar a confiança que depositam em mim, independentemente das circunstâncias. Mas ela deve ser biunívoca sob pena de ela deixar de ter sentido.
A solidariedade é dizer presente quando precisam de nós.
Havendo honestidade intelectual e lealdade, respeitamos os outros porque nos estamos a respeitar. Porque todos os nossos actos são transparentes e verdadeiros.
Muitos estarão a pensar neste momento que sou uma verdadeira "velha do restelo" ou então uma romântica que só sabe ler romances de amor. Respeito tais opiniões mas sabem é que a única herança que vou deixar às minhas filhas são os valores nos quais acredito. Mas os valores só fazem sentido se eu actuar de acordo com os mesmos.
Assim, vou deixar as escolhas certas, que não as boas, para quem os valores são palavras vãs.
Até porque não conseguia ser feliz se fosse de outra forma.
O sentir não é apenas a atribuição pessoal a qualquer coisa que fazemos mas, igualmente, a qualquer coisa que nos fazem.
E, na grande maioria das vezes, perante a mesma acção, o que sentimos é bem diferente daquilo que pensámos.
É que o ser humano tem respostas racionais e emocionais. E, muitas vezes a linha é invisível.
Vem isto a propósito da situação que vivo desde Março deste ano e da dificuldade que estou a sentir pela primeira vez na minha vida em dar a volta por cima. Talvez porque esteja a sentir em demasia, o que me impede de chegar a uma conclusão.
Assim, optei por meter uma semana de férias, tentar racionalizar o que sinto e definir o meu futuro. Se estiver ausente, já sabem.
Entretanto, e a pedido, deixo-vos um tema interpretado por Juan Luis Perales. Escolhi esta música porque era uma das mais pedidas quando trabalhava na rádio. CT, esta é especialmente para ti. Espero que gostes.
muitas vezes não recuperamos aquilo que perdemos." (Paulo Geraldo)
Não será legítimo desistir de lutar quando a luta é desigual?
É verdade que desistir é uma covardia.
Mas, pergunto-me: estando a vida constantemente a ganhar por KO e, mesmo assim, levantarmo-nos dia após dia, sem ajuda de ninguém, não é exigir de mais de nós próprios?