
Não te julgues um “incompreendido”, porque todos o somos. Dizeres-te incompreendido é supores-te privilegiado, com direito à compreensão alheia. Não te digas incompreendido. Vê antes se te compreendes a ti.
Virgílio Ferreira, in Pensar
Por opção, aproveitei a minha estadia em Bragança para estar algumas horas sozinha. Precisava de reflectir sobre tudo o que se tem passado nos últimos meses.
A necessidade que eu sempre tive de encontrar fundamentos e razões para tudo o que me acontece impede-me, muitas vezes, de relativizar o que é, de facto, importante e de fechar capítulos na minha vida.
Já o disse muitas vezes, este último ano terá sido o mais difícil para mim. Em termos pessoais, familiares e profissionais. O exercício que tentei fazer foi no sentido de saber até que ponto eu era responsável por tudo o que me aconteceu. Quem me conhece sabe que me entrego por inteira a tudo o que faço, vivo e sinto. Talvez por isso sinta as perdas de uma forma peculiar.
Mas, uma coisa é perder.. Outra coisa, bem diferente, é tentar encontrar razões e fundamentos quando não existem. A vida demonstra-nos que muitas coisas acontecem só porque têm de acontecer. Independentemente de contribuirmos, ou não, para um determinado resultado.
Nesta viagem pela minha própria incompreensão da vida cheguei à conclusão que por muito que façamos há sempre o incerto e o imponderável. Variantes para as quais não há justificação.
Não é importante saber porque perdemos. O importante é saber que perdemos. Sem drama. Sem subterfúgios.
Quiçá, por pura ironia, se conclua que enquanto perdedores saímos vencedores na arte de viver a vida de forma intensa.
Não tenho que me envergonhar por viver de forma intensa os meus afectos e as minhas emoções, porque é essência daquilo que sou. É isso que me individualiza enquanto ser humano. É assim que gosto de ser.
Talvez por isso, estou preparada para enfrentar a perda que, soube hoje, vou ter que enfrentar segunda-feira.