Gostaria de realçar que não sou professora nem estou ligada ao ensino, pelo que a minha visão é o de uma cidadã comum que, simultâneamente, é mãe.
Muito se tem criticado a evolução do ensino em Portugal. Aliás, em verdade se diga, sempre houve a tendência para nos considerarmos, enquanto Povo, atrasados e sem qualificações colocando como 1ª razão a falta de qualidade do ensino.
Mas será que o problema da educação de um povo se resume à eficiência de um sistema de ensino? Se assim for, será que a culpa é do Estado?
Convenhamos que é mais fácil sacudir a água do capote e atribuir as culpas a uma entidade abstracta como é o Estado (não cabe aqui, neste momento, dissertar sobre o que é o Estado).
Fácil, ou não, a verdade é que sempre se tem responsabilizado o Estado, mais concretamente os políticos, pelo problema do ensino. Desde a falta de escolas, à escassez de recursos, passando pelos vencimentos dos professores, tudo tem servido para criticar o sistema.
No meu ponto de vista esta abordagem é incorrecta. Porquê?
Numa noção simplista podemos dizer que o Estado somos todos nós. Se entendermos a educação como uma necessidade nacional então somos todos nós responsáveis pela educação.
Não é menos verdade que nesta co-responsabilização há grupos com responsabilidades acrescidas.
Comecemos pelos Professores.
Devo, antes de mais, afirmar que é uma profissão que eu respeito. Compreendo que esta classe se depara, diariamente, com programas curriculares desadequados à realidade escolar e, muitas vezes, com falta de apoios para sustentar esses mesmos programas. Mas, não é menos verdade, que se analisarmos as diversas “lutas” dos professores, elas direccionam-se mais para a melhoria dos seus vencimentos e regalias que a necessidade de uma participação activa no ensino. Que eu me lembre, nunca ocorreu uma greve por um governo pretender implementar um programa curricular (pelo menos como razão principal). Mais, ainda, há que ter a frontalidade para dizer que os professores, na sua grande maioria, vêem como uma intromissão no seu papel a intervenção dos pais na gestão das escolas.
Falemos, agora, do papel dos pais.
Depara-se hoje com um fenómeno que resulta da evolução da vida familiar e social. A grande maioria entrega o filho na escola de manhã, vai buscá-lo à noite, limitando-se a falar com os professores quando são convocados. Isto é, demitem-se da sua função de pais e educadores principais, passando a ter um lugar, eu diria, terciário (professores, amigos e pais), relativamente aos seus filhos. A maioria das vezes o papel de educador limita-se a mandar os filhos estudar para o quarto enquanto fazem outra coisa qualquer como ver televisão.
Há poucos dias li uma reportagem sobre uma escola secundária norte-americana. O pessoal docente da Escola Secundária de Pacific Palisades (Califórnia) aprovou unanimemente, para ser gravada no atendedor de chamadas da escola, uma mensagem que tinha como principal objectivo exigir aos alunos e aos pais maior responsabilidade pelas faltas dos estudantes e pelas faltas de trabalho de casa.
A mensagem diz o seguinte:
“ Olá!
Foi direccionado para o atendedor automático da escola. De forma a podermos ajudá-lo a falar com a pessoa certa, por favor ouça todas as opções antes de fazer a sua selecção:
- Para mentir sobre a justificação das faltas do seu filho, pressione a tecla 1
- Para inventar uma desculpa sobre porque é que o seu filho não fez o seu trabalho, tecla 2
- Para se queixar sobre o que nós fazemos, tecla 3
- Para insultar os professores, tecla 4
- Para saber por que razão não recebeu determinada informação que já estava referida no boletim informativo ou em diversos documentos que lhe enviámos, tecla 5
- Se quiser que lhe criemos a sua criança, tecla 6
- Se quiser agarrar, tocar, esbofetear ou agredir alguém, tecla 7
- Para pedir um professor novo, pela terceira vez este ano, tecla 8
- Para se queixar dos transportes escolares, tecla 9
- Para se queixar dos almoços fornecidos pela escola, tecla 0
- Se já compreendeu que este é o mundo real e que a sua criança deve ser responsabilizada e responsável pelo seu comportamento, pelo seu trabalho na aula, pelos seus tpcs e que a culpa da falta de esforço do seu filho não é culpa do professor, desligue e tenha um bom dia! “
Escusado será dizer que a escola e os professores estão a ser processados por pais, que querem que as notas que levam ao chumbo dos seus filhos sejam alteradas para notas que os passem - ainda que esses miúdos tenham faltado 15 a 30 vezes num semestre e não tenha realizado trabalhos escolares suficientes para poderem ter positiva.
Também não tenho grandes dúvidas que em Portugal ocorreria a mesma reacção por parte dos pais. Quem acompanhou as minhas intervenções nos Grandes Portugueses recordar-se-á de uma mensagem sobre o papel dos pais na educação. Mantenho tudo o que disse e não me repito porquanto esta intervenção já vai longa (apenas recordaria a questão dos atestados falsos).
Penso ter lançado alguns tópicos, polémicos quiçá, para discussão.
Em conclusão, penso que o problema do ensino em Portugal, como outros problemas, não se resolve com dinheiro (não esqueçamos que Portugal é um dos países que mais investe em educação). Resolve-se, no meu ponto de vista, com uma mudança de atitude de todos nós.
Abraços amigos
NI