segunda-feira, 18 de junho de 2007




Durante este fim-de-semana ocupei um pouco do meu tempo de-semana ocupei um pouco do meu tempo a guardar uns documentos do meu tempo de estudante (entendido pela “profissão” a tempo inteiro pois até ao fim da minha vida estou sempre aprender). Ao reler alguns dos meus trabalhos senti-me transportada até aquele tempo e pensei no que mudou no ensino desde então.


Gostaria de realçar que não sou professora nem estou ligada ao ensino, pelo que a minha visão é o de uma cidadã comum que, simultâneamente, é mãe.


Muito se tem criticado a evolução do ensino em Portugal. Aliás, em verdade se diga, sempre houve a tendência para nos considerarmos, enquanto Povo, atrasados e sem qualificações colocando como 1ª razão a falta de qualidade do ensino.


Mas será que o problema da educação de um povo se resume à eficiência de um sistema de ensino? Se assim for, será que a culpa é do Estado?


Convenhamos que é mais fácil sacudir a água do capote e atribuir as culpas a uma entidade abstracta como é o Estado (não cabe aqui, neste momento, dissertar sobre o que é o Estado).


Fácil, ou não, a verdade é que sempre se tem responsabilizado o Estado, mais concretamente os políticos, pelo problema do ensino. Desde a falta de escolas, à escassez de recursos, passando pelos vencimentos dos professores, tudo tem servido para criticar o sistema.


No meu ponto de vista esta abordagem é incorrecta. Porquê?


Numa noção simplista podemos dizer que o Estado somos todos nós. Se entendermos a educação como uma necessidade nacional então somos todos nós responsáveis pela educação.


Não é menos verdade que nesta co-responsabilização há grupos com responsabilidades acrescidas.


Comecemos pelos Professores.


Devo, antes de mais, afirmar que é uma profissão que eu respeito. Compreendo que esta classe se depara, diariamente, com programas curriculares desadequados à realidade escolar e, muitas vezes, com falta de apoios para sustentar esses mesmos programas. Mas, não é menos verdade, que se analisarmos as diversas “lutas” dos professores, elas direccionam-se mais para a melhoria dos seus vencimentos e regalias que a necessidade de uma participação activa no ensino. Que eu me lembre, nunca ocorreu uma greve por um governo pretender implementar um programa curricular (pelo menos como razão principal). Mais, ainda, há que ter a frontalidade para dizer que os professores, na sua grande maioria, vêem como uma intromissão no seu papel a intervenção dos pais na gestão das escolas.


Falemos, agora, do papel dos pais.


Depara-se hoje com um fenómeno que resulta da evolução da vida familiar e social. A grande maioria entrega o filho na escola de manhã, vai buscá-lo à noite, limitando-se a falar com os professores quando são convocados. Isto é, demitem-se da sua função de pais e educadores principais, passando a ter um lugar, eu diria, terciário (professores, amigos e pais), relativamente aos seus filhos. A maioria das vezes o papel de educador limita-se a mandar os filhos estudar para o quarto enquanto fazem outra coisa qualquer como ver televisão.


Há poucos dias li uma reportagem sobre uma escola secundária norte-americana. O pessoal docente da Escola Secundária de Pacific Palisades (Califórnia) aprovou unanimemente, para ser gravada no atendedor de chamadas da escola, uma mensagem que tinha como principal objectivo exigir aos alunos e aos pais maior responsabilidade pelas faltas dos estudantes e pelas faltas de trabalho de casa.
A mensagem diz o seguinte:


“ Olá!
Foi direccionado para o atendedor automático da escola. De forma a podermos ajudá-lo a falar com a pessoa certa, por favor ouça todas as opções antes de fazer a sua selecção:
- Para mentir sobre a justificação das faltas do seu filho, pressione a tecla 1
- Para inventar uma desculpa sobre porque é que o seu filho não fez o seu trabalho, tecla 2
- Para se queixar sobre o que nós fazemos, tecla 3
- Para insultar os professores, tecla 4
- Para saber por que razão não recebeu determinada informação que já estava referida no boletim informativo ou em diversos documentos que lhe enviámos, tecla 5
- Se quiser que lhe criemos a sua criança, tecla 6
- Se quiser agarrar, tocar, esbofetear ou agredir alguém, tecla 7
- Para pedir um professor novo, pela terceira vez este ano, tecla 8
- Para se queixar dos transportes escolares, tecla 9
- Para se queixar dos almoços fornecidos pela escola, tecla 0
- Se já compreendeu que este é o mundo real e que a sua criança deve ser responsabilizada e responsável pelo seu comportamento, pelo seu trabalho na aula, pelos seus tpcs e que a culpa da falta de esforço do seu filho não é culpa do professor, desligue e tenha um bom dia! “


Escusado será dizer que a escola e os professores estão a ser processados por pais, que querem que as notas que levam ao chumbo dos seus filhos sejam alteradas para notas que os passem - ainda que esses miúdos tenham faltado 15 a 30 vezes num semestre e não tenha realizado trabalhos escolares suficientes para poderem ter positiva.


Também não tenho grandes dúvidas que em Portugal ocorreria a mesma reacção por parte dos pais. Quem acompanhou as minhas intervenções nos Grandes Portugueses recordar-se-á de uma mensagem sobre o papel dos pais na educação. Mantenho tudo o que disse e não me repito porquanto esta intervenção já vai longa (apenas recordaria a questão dos atestados falsos).


Penso ter lançado alguns tópicos, polémicos quiçá, para discussão.


Em conclusão, penso que o problema do ensino em Portugal, como outros problemas, não se resolve com dinheiro (não esqueçamos que Portugal é um dos países que mais investe em educação). Resolve-se, no meu ponto de vista, com uma mudança de atitude de todos nós.


Abraços amigos

NI

8 comentários:

Francisco o Pensador disse...

Ni,estou perfeitamente de accordo contigo.
Na minha opinião os pais são os maiores causadores do fracasso escolar dos seus filhos!
Isto chega a atingir o patamar do ridiculo em algumas situações...

Essa história que nos contastes da Escola secundária na américa é deveras interessante e espelha as dificuldades que os professores sentem nos dias de hoje.
Todos querem que os seus filhos sejam Doutores,mas ninguém quer assumir as suas responsabilidades!

Lembro-me que quando era criança e levei pela 1ª vez uma réguada na escola,fiquei danado e mal cheguei à casa,fui queixar-me ao meu pai do "abuso" que a professora cometeu!
Sabes qual foi a reacção do meu pai?
Deu-me um estalo e perguntou-me o que eu tinha feito para a professora me castigar!!!
Aquilo serviu-me de lição!...nunca mais me queixei!!!

Hoje os pais são muito benevolentes com os filhos e demasiado protectores.
Mas também os compreendo..(também sou pai)
Com problemas como a droga,alcool e criminosos a cada esquina,todos eles ficam receosos que os seus filhos se transformam em delinquentes.
Mas desta maneira,também estão a errar (e muito),porque a criança pensa que tudo lhe é permitido e abusa da confiança.

O governo pode não ter responsabilidades na educação afectiva/familiar da criança,mas se não criar urgentemente condições para que os pais se libertem do "stress",das "dores de cabeça" e da "angustia" de arranjar dinheiro para as facturas (aproveitando os momentos livres para tentarem relaxar a mente..),vai ser muito dificil os pais terem tempo para os filhos e vai criar um problema social grave!

E que dizer daquela lei absurda e estúpida da avaliação dos Professores pelos Pais?
Quer se dizer...
Os Pais Delinquentes que nunca vão à escola,nem as reuniões (excepto quando é para bater no professor)vão avaliar os professores dos seus filhos delinquentes?
Os Pais é que deviam ser obrigados a voltar para a escola!!!!!!!

http://absurdo.wordpress.com/2006/05/31/sobre-os-pais-avaliarem-os-professores/


Só sei que a curto prazo,o governo vai ressentir-se disso.
Porque se os niveis de delinquência aumentar a este ritmo,o perigo de aparecer por ai outro "Salazar" é cada vez maior!!
As pessoas ficam "cheias"
(delinquência = Insegurança)e vão recorrer a homens perigosos para resolver os problemas imediatos,mesmo que signifique abrir mão da sua própria liberdade..
O pior é que depois corremos o risco de esperarmos mais 40 anos para nos ver livre d'ele!....

Mas o que vale é que as minhas malas estão sempre prontas para entrar em acção.

Um abraço.

*tεrεsα* disse...

Ni e outros participantes,

vejam este vídeo:

http://www.youtube.com/watch?v=hAn_58c-iUE


Ni,

vai de encontro ao teu post. Se quiseres edita-o e coloca o vídeo.

Bjs.

Francisco o Pensador disse...

Teresa,o teu video é excelente e transmite uma mensagem muito importante!
Têm tudo a ver com aquilo que estamos a falar neste momento!
Os meus parabéns pelo teu sentido de oportunidade!!

Abs.

José Carrancudo disse...

Não podemos concordar com esta partilha de responsabilidades. Senão, vejamos.

O País está em crise educativa generalizada, resultado das políticas governamentais dos últimos 20 anos, que empreenderam experiências pedagógicas malparadas na nossa Escola. Com efeito, 80% dos nossos alunos abandonam a Escola ou recebem notas negativas nos Exames Nacionais de Português e Matemática. Disto, os culpados são os educadores oficiosos que promoveram políticas educativas desastrosas, e não os alunos e professores. Os problemas da Educação não se prendem com os conteúdos programáticos ou com o desempenho dos professores, mas sim com as bases metódicas cientificamente inválidas.

Ora, devemos olhar para o nosso Ensino na sua íntegra, e não apenas para assuntos pontuais, para podermos perceber o que se passa. Os problemas começam logo no ensino primário, e é por ai que devemos começar a reconstruir a nossa Escola. Recomendamos vivamente a nossa análise, que identifica as principais razões da crise educativa e indica o caminho de saída. Em poucas palavras, é necessário fazer duas coisas: repor o método fonético no ensino de leitura e repor os exercícios de desenvolvimento da memória nos currículos de todas as disciplinas escolares. Resolvidos os problemas metódicos, muitos dos outros, com o tempo, desaparecerão. No seu estado corrente, o Ensino apenas reproduz a Ignorância, numa escala alargada.

Devemos todos exigir uma acção urgente e empenhada do Governo, para salvar o pouco que ainda pode ser salvo.

*tεrεsα* disse...

Sr. José Carrancudo, seja bem vindo ao blog.

Pelo seu comentário noto que é professor.

Ab.

*tεrεsα* disse...

Pensador,
ainda bem que gostaste do vídeo.

Volto mais tarde para comentar.
Agora estou sem tempo.

Mas sou suspeita neste assunto, uma vez que na minha família há muitos professores.

Só vou adiantar isto à Ni:

Os professores têm razão nas greves e na reivindicação dos seus aumentos salariais.

Aquelas histórias que tantas xs vejo pessoas a falar que os professores não fazem nada, têm mais férias, um horário leve, e eu sei lá que mais, não correspondem à verdade. O horário de um professor não corresponde só às aulas que ele dá. Esqueceram-se das correcções dos trabalhos e testes? Da preparação das aulas? Das reuniões? E as outras actividades?

Só quem não conhece a realidade escolar é que afirma isso.

Os professores trabalham e muito.

É claro que há maus professores. Mas bom e mau há em todas as profissões. A Sr.ª Ministra quer é um bode expiatório para o mau estado da educação em Portugal.

Ab.

NI disse...

Caros Amigos:

Antes de mais gostaria de dar as boas vindas ao Sr. José Carrancudo. Espero vir a contar mais vezes com a sua participação.

Referi na minha intervenção que respeito os professores. Tal deve-se ao facto de ter tido a sorte de sempre me ter deparado com excelentes professores. Foram pessoas empenhadas, interessadas que me ensinaram, muito para além daquilo que vinha nos manuais escolares.

Da relação que tenho tido com os professores das minhas filhas, infelizmente, salvo raríssimas excepções, não tenho a mesma ideia.

Admito que a situação que se vive na sociedade hoje em dia não é propícia a um grande empenhamento de todos nós. Não é menos verdade que, como em todas as profissões, há bons e maus profissionais. Também tenho consciência dos problemas de milhares de professores que são colocados a centenas de Kms, privando-os da convivência com as suas famílias.

É óbvio que as políticas introduzidas nos últimos anos na educação têm a sua influência.

O que eu pretendi transmitir é que a educação não é, não pode ser, nem deve ser, um problema com um único responsável. O Governo define as políticas, é certo, mas cabe aos professores e aos pais um papel fundamental na aplicação dessas políticas. Ainda ontem, quando me encontrava em Lisboa, tive oportunidade de ver uma reportagem sobre uma iniciativa numa escola problemática. Os professores decidiram recorrer às artes para incentivar os alunos. Isto é, aqueles professores não se limitaram a aplicar as políticas do governo. Foram para além delas.

Dado o curto tempo de que disponho hoje fico por aqui. Vou tentar voltar ao mesmo assunto mais tarde.

Abs. amigos.

MC disse...

Dada a hora, abrirei uma excepção e serei telegráfico, que é algo que raramente consigo quando o tema mexe aqui no sitio certo...

A culpa principal é dos sucessivos governos que vêm baixando o nivel de exigencia aos alunos de modo a cehgarem às estatisticas que querem.

Depois, sim, vem a ausencia total de uma grande maioria de pais na real educação dos filhos. Muitos limitam-se a dar-lhes guarita e alimentação...

O coorporativismo da classe dos professores, em que tudo se defende, desde baixas de anos à aceitação se pseudo professores, dá a sua ajuda. Os bins que há, não chegam.

Os estudantes acabam por ser os menos culpados, ainda que ajudem à festa...

Eu estudei nos EU e não tenho nenhuma ideia desse tipo de situação. Tive optimos professores, que ainda hoje recordo com saudade e (alguns) me servem de exemplo para muita coisa.

:)

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