Eis a Lenda de Gaia!
Imagem da net
Existe no lugar do
Castelo um morro fronteiro a Miragaia, onde em tempos se fixou um castro, que
veio a ser castelo árabe, onde se diz ter vivido um dos reis de Leão. Nesse lugar existe uma rua com o nome do Rei
Ramiro.
Castelo de Gaia (imagem daqui)
Há ainda uma quinta
com um pequeno palácio e uma torre antiga, outrora designada como Paço de D.
Ramiro.
O que parece certo,
face aos registos históricos, é a tomada do castelo numa expedição marítima de
surpresa levada a cabo por cavaleiros cristãos, quando estava ocupado por um
rei mouro.
Foi já no liceu que
tomei conhecimento da Lenda de Gaia que, diga-se, Almeida Garrett rescreveu em
verso popular e publicou em 1845 no Jornal das Belas Artes .
A minha professora de
história conseguiu convencer alguns de nós a fazer uma peça sobre a Lenda de
Gaia. Como fazia teatro amador calhou-me o papel de Rainha Gaia.
Há pelo menos duas
versões. A que vou “contar” é aquela que representámos no longínquo ano de
1981.
“Reinava na Galiza um
rei cristão chamado Ramiro, casado com uma rainha chamada Gaia. Nas terras
junto ao rio Douro, reinava outro rei que era árabe e se chamava Alboazar.
Um dia, Alboazar viu
a rainha Gaia e apaixonou-se por ela. Mas havia um problema, ela era casada com
o rei cristão.
Alboazar andava
sempre a pensar na rainha Gaia e queria roubá - la ao rei Ramiro.
Um dia, Alboazar
soube que o rei Ramiro tinha partido para a guerra, e a rainha Gaia estava no
castelo com alguns soldados velhos e suas aias.
Alboazar foi à Galiza
raptar a rainha Gaia e levou-a consigo para a Galiza.
Quando o rei Ramiro
voltou da guerra, disseram-lhe que a rainha tinha sido raptada pelo rei árabe.
Ramiro zangado,
preparou 3 barcos cheios de soldados e partiu para libertar a sua rainha Gaia.
Quando chegaram ao
rio Douro taparam os barcos com ramos e Ramiro disfarçou-se de mendigo, levando
um chifre e a sua espada escondidos. Ramiro falou assim aos seus soldados:
Rei Ramiro - Fiquem
aqui escondidos. Assim que conseguir entrar no castelo tocarei no corno para
que corrais a ajudar-me.
Narrador - Deste modo
partiu o rei Ramiro por entre árvores. Já perto do castelo parou junto de uma
fonte, para descansar. Passado algum tempo, apareceu uma jovem moura em busca
de água.
Rei Ramiro - Quem és
tu e a quem serves?
Ortiga - O meu nome é
Ortiga e sou serva da rainha Gaia. Vim buscar água e não posso demorar-me.
Rei Ramiro - Espera.
Não tenhas medo. Sou apenas um romeiro. Empresta-me esse púcaro para que possa
beber e assim matar a minha sede.
Ortiga - Agora que
saciaste a tua sede, deixa - me partir pois a minha ama já deve estar à minha
espera.
Narrador - Logo que
chegou ao castelo, Ortiga dirigiu - se ao quarto da rainha, levando - lhe a
água para que ela se pudesse refrescar; Quando lhe deitava água nas mãos caiu
nelas metade do anel. A rainha ao vê - lo reconheceu - o imediatamente e disse:
Rainha Gaia - Diz -
me Ortiga, diz - me quem encontraste na tua ida à fonte?
Ortiga - Ninguém
senhora! Eu não encontrei ninguém!
Rainha Gaia - Não
mintas Ortiga! Para teu bem e meu, diz - me com quem te cruzaste a caminho da
fonte?
Ortiga - Vi apenas um
romeiro senhora, velho e cansado! Pediu - me água para matar a sua sede.
Rainha Gaia - Pois
então Ortiga, volta para onde o viste e traz esse romeiro à minha presença.
Rainha Gaia - Diz -
me romeiro o que te trouxe aqui?
Romeiro (rei Ramiro)
- Foi o meu amor por vós que guiou o meu coração. A rainha reconhecendo - lhe a
voz perguntou:
Rainha Gaia -
Romeiro! Romeiro! És quem eu penso?
Romeiro (rei Ramiro)
- Pois quem mais vos poderia dar tal anel?
Rainha Gaia - Foge
Ramiro! Foge daqui. Alboazar foi à caça e não tarda que chegue e se deite a
dormir. Eu aviso-te e tu o matarás. Ortiga esconde–o naquele quarto!
Narrador - Alboazar
chega da caça e a rainha Gaia perguntou - lhe:
Rainha Gaia – Meu
senhor, se aqui tivesses D. Ramiro, que lhe fazias tu meu rei?
Rei Alboazar - Fazia
- lhe o mesmo que ele me faria. Matava-o.
Rainha Gaia – Ortiga
vai buscar o homem.
Rei Alboazar - És tu
o rei Ramiro?
Rei Ramiro - Sou eu.
Rei Alboazar - O que vieste aqui fazer?
Rei Ramiro - Vim ver
a minha mulher que tu roubaste traiçoeiramente... Eu confiava em ti.
Rei Alboazar : -
Vieste para morrer, mas antes quero perguntar-te: Se me tivesses em teu castelo
que morte me darias?
Rei Ramiro - Dava -
te um capão assado e uma regueifa com um copo de vinho. Depois havias de tocar
um chifre até que perdesses o fôlego. Mais ainda, abriria as portas do castelo
para que todos vissem o teu sofrimento e a tua morte.
Rei Alboazar - Pois
essa é a morte que te vou dar.
Narrador - Depois de
comer e beber o rei Ramiro chegou à torre e começou a tocar o corno… Os seus
companheiros perceberam o sinal e correram a ajudá-lo. Inicia-se uma luta
sangrenta e morrem muitos muçulmanos.
Soldados – Rei Ramiro
ganhamos, vencemos.
Rei Ramiro – Vamos
para os barcos. Voltemos para as nossas terras. Vem Gaia.
Já dentro do barco, o
rei Ramiro vê a rainha Gaia a chorar. Sem compreender o que se passa com a sua
esposa pergunta-lhe:
Rei Ramiro – Gaia
porque choras?
Rainha Gaia - Choro
por amor do rei mouro que mataste.
Rei Ramiro – Como te
atreves a chorar pelo rei mouro?! Não mereces viver. Soldados prendei-a com
cordas e amarrai-a a uma mó de pedra. Mira Gaia! Mira, que miras pela última
vez!
Narrador – O rei
Ramiro dizendo isto lançou a rainha Gaia nas águas num local que ficou
conhecido por Foz de Âncora. Depois voltou para a Galiza onde mais tarde casou
e teve enorme descendência.
Vitória, vitória
acabou a história!”
Pois, esqueci-me de
dizer. A lenda acaba mal…
Adenda: a Afrodite criou um espaço onde podem acompanhar todas as Lendas que vão sendo dadas a conhecer. Aqui.