Imagem da net
"Devia-se estar sempre apaixonado.
É a razão pela qual nunca nos devíamos casar."
Óscar Wilde
Eis uma afirmação que nos obriga a reflectir. É óbvio que para quem nunca casou, ou se casou há pouco tempo, ou, ainda, para quem tem um casamento durante o qual ainda não tenha ocorrido uma “crise”, obviamente responderá que não está de acordo.
Mas a resposta será assim tão linear?
Será que é possível duas pessoas estarem casados 10, 20, 30 anos e mais e manter acesa a paixão? E o amor? E a amizade?
Admitindo que com o tempo a paixão se vai desvanecendo, será que fica o amor? Mas o que é isso do amor?
Será que fica apenas a amizade?
Sinceramente não tenho resposta pela simples razão que um casamento, durante o seu percurso, é envolvido por todos os sentimentos.
Isto é, creio que ao longo do casamento os parceiros sentem um conjunto de sentimentos que podem não ser cumulativos num mesmo período. Numa fase podemos sentir paixão, numa outra amor (seja lá o que isto representa), numa outra podemos sentir apenas amizade ou mesmo enfado e questionarmos se não estamos a perder tempo.
Quiçá, o ser humano é um ser complicado e com tendência para confundir sentimentos.
Mas o tema de hoje não é o amor (pelo menos directamente). Hoje vamos falar de uma instituição que dá pelo nome de casamento.
Imagem da net
Em conversa com um colega que é casado há 28 anos, chegámos à conclusão que estar casado mais do que 10-15 anos é um verdadeiro estigma. Penso que não haverá nenhuma família que não tenha passado por um processo de divórcio.
Segundo as estatísticas, a maioria ocorre em casamentos que duram 10-12 anos.
Será que se pode atribuir a “culpa” ao facilitismo? É que, hoje em dia, o divórcio “está à distância de um clic”.
Também, mas não só!
Para mim, mais importante que o facilitismo com que hoje em dia é possível fazer um divórcio, é a forma com que um casal encara o próprio casamento.
Eu explico:
Um casamento, legalmente falando, é um simples contrato. Com direitos e obrigações para ambas as partes. Mas as pessoas casavam a pensar no contrato? Excepcionando aqueles que casavam por interesse, a maioria não estava a imaginar que estava a celebrar um simples contrato civil que depende da livre vontade das partes.
Então, porque casavam?
Até meados dos anos 80 as pessoas apaixonavam-se e casavam-se. Objectivo: construir e partilhar uma vida em comum. Se bem que para a maioria das mulheres subsistisse um ideal romântico no casamento (não esquecendo a parte religiosa que ainda tinha alguma importância na altura), a verdade é que ambos partiam para o casamento com expectativas realistas. Sabiam que tinham que trabalhar para construir um projecto a dois. Mais, ainda, ingressavam cedo no mercado de trabalho. Tornavam-se independentes da família nuclear com 20-25 anos e, consequentemente, casavam-se cedo.
E hoje? Os objectivos são os mesmos? O casamento é encarado da mesma forma? Penso que não.
Vejamos:
Cada vez mais, os jovens têm dificuldades em iniciar uma vida independente. Estudam até tarde, têm dificuldade em ingressar no mercado de trabalho e é perfeitamente “normal” assistirmos a pessoas de 30 anos e mais a viverem dependentes dos pais.
Esta dependência económica tem efeitos nefastos porque os jovens começam a criar, inconscientemente, uma dependência emocional. Quando finalmente casam não estão preparados para as dificuldades que um casamento acarreta. Afinal, sempre que tinham uma dificuldade tinham o “amparo” da família nuclear ou dos amigos também eles com o mesmo tipo de experiência.
Também não será alheio o facto de a mulher hoje em dia ter ocupado na sociedade o lugar a que sempre tinha direito e, verdade seja dita, não aceita com passividade o que outras aceitaram em tempos idos. Porque tem outro tipo de educação e postura e, não menos importante, porque a maioria mantém já uma independência económica em relação ao parceiro.
Tudo isto é verdade. Mas não serão as únicas razões.
Sob pena de me chamarem de cínica, muitos dos jovens não vêem o casamento como um projecto a dois.
Parece-me que, pelo contrário, associam o termo “casamento” não a um contrato, não a um projecto a dois mas….a uma festa de arromba e a uma boa lua-de-mel. Começam a tratar da "festa" com um ano, ano e meio de antecedência. Primeiro marca-se a "quinta", a florista, o fogo de artifício e a banda que vai tocar. E, como os pais geralmente pagam o casamento, é uma boa forma de juntar uma bela maquia para comprar um carro melhor. Nas vésperas pedem ao padre ou ao conservador e ficam aborrecidos quando estes dizem que estão ocupados.
Vamos ser claros. Hoje em dia a maioria das pessoas casa tendo presente que se não der certo existe sempre o divórcio. Assim, à primeira dificuldade, não se luta. Pede-se o divórcio.
E com isso dão a ganhar às inúmeras empresas criadas para fazerem festas de arromba para comemorar o.... divórcio!
Nota 1 - Post em modo "copy past" de um outro de 2008
Nota 2 - Segundo os últimos dados do INE, o número de casamentos e divórcios baixou de forma significativa nos últimos três anos. A culpa, dizem, é da crise...