quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Geração Rasca?

Ontem à noite tive oportunidade de ler um texto de Nuno Markl ( para a geração dos 30 ). Não resisti a colocar neste blog o texto integral.


Permitia-me, contudo, a fazer um curto comentário.


Conforme referi numa das minhas mensagens nos "Grandes Portugueses", tem sido comum considerar as gerações mais novas como "incapazes", "rascas" e outros epítetos. ´



Recordo-me bem do que se dizia da minha geração (a dos 40). Na nossa juventude também eramos "incapazes" e "rascas". Mais parece que tais epítetos são como que um título da nobreza, hereditário e vitalício.



Mas, na verdade, das gerações mais novas têm brotado pessoas absolutamente excepcionais.



E a geração dos 30 não foge à regra.


Quem se der ao trabalho de ler algumas das revistas científicas verá muitos trabalhos, reconhecidos internacionalmente, assinados por jovens portugueses (por exemplo, muitos dos principais desenvolvimentos a nível de genética têm sido conduzidos por jovens portugueses).


Outro exemplos: trabalhos a nível de engenharia e da robótica; nas artes (por exemplo um dos cartoonistas com nome firmado nos EUA é português), etc.


E a geração dos 20 não será diferente.


Penso que os jovens vivem num período muito mais complicado do que a geração anterior.

Muito mais competitivo. Os desafios são imensos.


Mas vale a pena partilhar o texto de Nuno Markl, quanto mais não seja para recordar um pouco da juventude não só da geração dos 30 mas, também, da minha geração: os 40.



"A juventude de hoje, na faixa que vai até aos 20 anos, está perdida. E está perdida porque não conhece os grandes valores que orientaram os que hoje rondam os trinta.


O grande choque, entre outros nessa conversa, foi quando lhe falei no Tom Sawyer. "Quem? ", perguntou ele.Quem?! Ele não sabe quem é o Tom Sawyer! Meu Deus... Como é que ele consegue viver com ele mesmo? A própria música: "Tu que andas sempre descalço, Tom Sawyer, junto ao rio a passear, Tom Sawyer, mil amigos deixarás, aqui ealém..." era para ele como o hino senegalês cantado em mandarim.


Claro que depois dessa surpresa, ocorreu-me que provavelmente ele não conhece outros ícones da juventude de outrora.


O D'Artacão, esse herói canídeo, que estava apaixonado por uma caniche; Sebastien et le Soleil, combatendo os terríveis Olmecs; Galáctica, que acalentava os sonhos dos jovens, com as suas naves triangulares; O Automan, com o seu Lamborghini que dava curvas a noventa graus; O mítico Homem da Atlântida, com o Patrick Duffy e as suas membranas no meio dos dedos; A Super Mulher, heroína que nos prendia à televisão só para a ver mudar de roupa (era às voltas,lembram-se?); O Barco do Amor, que apesar de agora reposto na Sic Radical, não é a mesma coisa. Naquela altura era actual... E para acabar a lista, a mais clássica de todas as séries, e que marcou mais gente numa só geração :O Verão Azul. Ora bem, quem não conhece o Verão Azul merece morrer. Quem não chorou com a morte do velho Shanquete, não merece o ar que respira. Quem, meu Deus, não sabe assobiar a música do genérico, não anda cá a fazer nada.


Depois há toda uma série de situações pelas quais estes jovens não passaram, o que os torna fracos: Ele nunca subiu a uma árvore! E pior, nunca caiu de uma. É um mole. Ele não viveu a sua infância a sonhar que um dia ia ser duplo de cinema. Ele não se transformava num super-herói quando brincava com os amigos. Ele não fazia guerras de cartuchos, com os canudos que roubávamos nas obras e que depois personalizávamos.Aliás, para ele é inconcebível que se vá a uma obra. Ele nunca roubou chocolates no Pingo-Doce. O Bate-pé para ele é marcar o ritmo de uma canção.


Confesso, senti-me velho... Esta juventude de hoje está a crescer à frente de um computador. Tudo bem,por mim estão na boa, mas é que se houver uma situação de perigo real, emque tenham de fugir de algum sítio ou de alguma catástrofe, eles vão ficar à toa, à procura do comando da Playstation e a gritar pela Lara Croft.Óbvio,nunca caíram quando eram mais novos. Nunca fizeram feridas, nunca andaram afazer corridas de bicicleta uns contra os outros. Hoje, se um miúdo cai, está pelo menos dois dias no hospital, a levar pontos e fazer exames a possíveis infecções, e depois está dois meses em casa fazer tratamento a uma doença que lhe descobriram por ter caído. Doenças com nomes tipo "Moleculum infanticus", que não existiam antigamente.No meu tempo, se um gajo dava um malho muitas vezes chamado de "terno" nem via se havia sangue, e se houvesse, não era nada que um bocado de terra espalhada por cima não estancasse.Eu hoje já nem vejo as mães virem à rua buscar os putos pelas orelhas,porque eles estavam a jogar à bola com os ténis novos. Um gajo na altura aprendia a viver com o perigo. Havia uma hipótese real de se entrar na droga, de se engravidar uma miúda com 14 anos, de apanharmos tétano num prego enferrujado, de se ser raptado quando se apanhava boleia para ir para a praia. E sabíamos viver com isso. Não estamos cá? Não somos até a geração que possivelmente atinge objectivos maiores com menos idade?


E ainda nos chamavam geração "rasca"...Nós éramos mais a geração "à rasca", isso sim. Sempre à rasca de dinheiro,sempre à rasca para passar de ano, sempre à rasca para entrar na universidade, sempre à rasca para tirar a carta, para o pai emprestar ocarro. Agora não falta nada aos putos.Eu, para ter um mísero Spectrum 48K, tive que pedir à família toda para se juntar e para servir de presente de anos e Natal, tudo junto.


Hoje, ele é Playstation, PC, telemóvel, portátil, Gameboy, tudo.Claro, pede-se a um chavalo de 14 anos para dar uma volta de bicicleta e ele pergunta onde é que se mete a moeda, ou quantos bytes de RAM tem aquela versão da bicicleta. Com tanta protecção que se quis dar à juventude de hoje, só se conseguiu que 8 em cada dez putos sejam cromos. Antes, só havia um cromo por turma. Era o totó de óculos, que levava porrada de todos, que não podia jogar à bola e que não tinha namoradas. É certo que depois veio a ser líder de algum partido, ou gerente de alguma empresa de computadores, mas não curtiu nada."

11 comentários:

Anónimo disse...

porque este barco tiene su vida,
no,no,
no nos moveran,
del barco del chanquete, no nos moveran

Anónimo disse...

porque este barco tiene su vida,
no,no,
no nos moveran,
del barco del chanquete, no nos moveran

NI disse...

Cidade de Nerja, em Málaga. O grupo é formado pelos irrequietos Tito e Piraña, pelas apaixonadas Beatriz e Desi, e ainda pelos rapazes Pancho, Javi e Quique. Faz parte das minhas memórias.

Francisco o Pensador disse...

Ni,decidamente divergimos nos gostos literário...hehehe...
Eu pensava que o MEC era um péssimo avaliador humano,mas quando li o texto deste Nuno Markl,até nem achei o MEC mau de todo...hehehe...

Hoje escreve-se qualquer coisa só para vender livros.

Agora não posso,mas voltarei amanhã para comentar este post.

Abs

*tεrεsα* disse...

Eh pá, um Spectrum ... que recordações... eu e o meu irmão tivemos um... as brigas que havia lá em casa pela luta do Spectrum: quantas vezes jogávamos, quanto tempo ficavamos com o Spectrum... Era uma luta…

As vezes que nós brincávamos aos índios e cowboys...

O meu irmão queria ser o super-homem e eu a super-mulher... lol...

Ele estava sempre a dizer: 'tás a ver? O super-homem voa e a super-mulher só salta... vocês são mesmo umas fraquinhas... bah... E eu respondia assim: A super-mulher não voa porque não precisa! Ela consegue resolver tudo só a saltar! O super-homem é que é um parvo e complica tudo. É mesmo estúpido. E tu és outro porque queres ser como ele!

Grandes discussões... eheheheheh

Pensador, isto dava um post no outro blogue não achas?

As vezes que eu me espatifei a correr, a brincar à apanhada... bons tempos...

Ab.

Francisco o Pensador disse...

Teresa,tu e o teu irmão travaram uma genuina "guerra dos sexos"...hehehe...

Ni,é assim.

Não considero que as novas gerações estejam melhores ou piores que as antigas.
Estão apenas diferentes!

Vejamos..
Nós também já fomos considerados uma geração falhada pelos nossos pais...
Os nossos pais,por sua vez,já foram considerados uma geração falhada pelos nossos avós...
Hoje a geração dos nossos filhos é considerada falhada por nós e amanhã a geração dos nossos netos será considerada falhada pelos nossos filhos!

Isto foi sempre assim!
É o egocentrismo de cada geração em acção!

Mas temos que ter consciência,de que nenhum de nós consegue parar a evolução.
E a evolução sempre equipou cada geração com as ferramentas de que necessita para sobreviver.
Podemos dizer que no nosso tempo era melhor porque existia mais arvores e flores.
Mas sabemos nós se os mais novos gostam de ver arvores?
Sabemos nós se eles não serão alérgicos ao polén das flores?
(isto é apenas um exemplo..)

O que foi bom para nós,não é forçoso que seja bom para eles!
Cada geração tem uma apetência natural para criar uma identidade própria!
E esta não é seguramente uma excepção!!

Este Nuno Markl fala como se esta nova geração fosse toda composta por uma cambada de "tótós".
Nada de mais falso!!
Se amanhã houvesse uma situação de emergência,o instinto de sobrevivência actuaría neles como em qualquer um de nós!!
Se calhar,melhor até,porque o mundo já está criado para preencher as necessidades dos mais novos.
Estão muito viciados nos jogos de computador,é verdade,mas quem originou esses vicios?
Quem inventou esses jogos?
Quem os deixa levar uma vida sedimentária?
Não somos nós?

Falou também que na nossa época cultural,existiram os melhores programas de entretenimento.(Tom Sawyer,d'artacão,o barco do amor,verão azul,etc..)
Reflictam...
Quando esse Nuno Markl punha-se a ver os filmes a preto e branco e os primeiros desenhos animados inventados na geração anterior a dele,não abria a boca de tédio?
Pois agora os mais novos também abrem a boca de tédio quando olham para os programas que fascinaram a nossa geração"!

Minha gente..

Mudam-se os tempos,mudam-se os gostos...

Temos que nos convencer que o processo da evolução é irreversivel.
E a nós,compete-nos apenas accompanhá-la da melhor forma!

Um abraço a todos.

NI disse...

Pensador, essa também é a minha opinião. Daí a minha intervenção inicial.

Se é verdade que a geração de hoje tem acesso a meios e a informação que as gerações anteriores não tinham, não é menos verdade que os desafios que se colocam são proporcionais.

Anónimo disse...

ai jesus o Javi... que lindo ele era...

pinxexa

NI disse...

Para que conste, a pinxexa é a tal amiga que me costuma dar bons conselhos.

Sê bem vinda.

Anónimo disse...

Bons conselhos? Eu?! Ai que meiguinha que tu és!....
Pinxexa

NI disse...

Hoje estou para aqui mas não abuses.

Bjs

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