Tinha 21 anos e estava no 3º ano da faculdade. O trabalho que tinha em part-time não dava para as despesas pelo que era urgente que arranjasse outro emprego se queria terminar o curso.
Estava a tomar o meu habitual café da manhã no Café "Ceuta" enquanto lia os anúncios do "Jornal de Notícias". Num cantinho aparecia um anúncio em que se pediam locutores de rádio. Não hesitei em enviar o meu curriculum. Uma semana depois recebi a resposta. Teria que fazer provas num estúdio de gravação de anúncios que tinham na cidade do Porto. Sem dizer nada a ninguém lá fui numa quinta-feira de manhã. Sei que tive que ler comerciais, anúncios, notícias e até inventar um atropelamento na Ponte D. Luís. Ao fim de quase seis horas de gravação lá me disseram que se ficasse aprovada seria contactada.
Duas semanas depois começava o "treino intensivo". Dois meses depois a minha voz ouvia-se pela primeira vez na rádio. Era o noticiário das 8 horas da manhã. Um ano depois fui convidada para outra rádio para assumir a coordenação das tardes desportivas de domingo a par de mais dois programas. Seria nessa rádio, onde fiquei cerca de cinco anos que conheci o que é hoje o meu marido. Seria por conta dessa rádio que percorri o País a apresentar espectáculos e a conhecer pessoas que de outra forma não conheceria. Foi nessa rádio que assumi a animação do "velhinho" "Palácio de Cristal". Foi nessa rádio que preparei pessoas que hoje em dia são conhecidas na rádio e na televisão.
A minha experiência da rádio durou sete anos. Por opção. E durante longos anos não consegui ouvir rádio.
Há uma frase comum a todos os que trabalharam e/ou trabalham em rádio. É um "bichinho". Para mim, mais do que "bichinho", foi uma verdadeira paixão. E a minha decisão de abandonar a rádio foi, provavelmente, a mais difícil que tive que tomar na vida.
A rádio cria laços entre pessoas que nunca se viram. É a companhia nas muitas horas de solidão de milhares de pessoas. Constitui, muitas vezes, o único elo de ligação entre o "eu" e os "outros".
Se hoje recebesse um convite para voltar não dizia que não. Mas sei que é impossível. Tudo tem o seu tempo e o seu lugar.
Por decisão da UNESCO hoje comemora-se o dia mundial da rádio.
10 comentários:
Por acaso tinha quase a tua idade (21 anos) quando entrei pela primeira vez em estúdio!
A tua história é deliciosa e fazes-me pensar na minha!! Tu apaixonaste-te por um colega (subentende-se), eu cometi o erro de me envolver com a minha maior fã!! ;)
Eu tirei alguns dividendos da minha primeira colaboração à séria em rádio, nunca dinheiro, mas que deram imenso jeito e hoje em dia ando a "matar o bicho" da forma que a minha vida mo permite. Nunca entendi esse lugar comum que é falar do "bicho da rádio", mas ele existe e não se explica, sente-se!
A rádio deu-te muito, mas sinto que ainda vai voltar a dar. Se Deus te der muitos e longos anos de vida (assim espero), tu hás-de voltar. Eu sei disso, tu sabes disso, o teu marido e as tuas filhas sabem disso!!
Só estás à espera do tempo certo e da altura certa! ;)
Beijinho*
Na minha adolescência ouvia muito rádio, pois sempre gostei muito de música e na época não havia (em Portugal) a MTV.
Sempre me disseram que tinha boa voz (inclusive um jornalista da TSF) e, uma vez, por brincadeira, concorri à RFM mas não fui escolhida... pelo look das meninas concorrente, acho que eu não era suficientemente 'gira' :-)
Durante os anos 60 cheguei a passar muitas noites a ouvir rádio através daquele velhinho aparelho do tamanho dum maço de cigarros a que chamávamos "transistor", escondido debaixo dos lençóis para ninguém ouvir o barulho.
Gostava tanto da rádio que eu próprio criei o meu "estúdio" no quarto. Tinha várias correspondentes em vários pontos do globo e fazia-o em francês e inglês.
Aproveitava para lhes ensinar a nossa língua. Enquanto lhes ia falando sobre o nosso país e, sobretudo, sobre a nossa música, o gravador de bobines de fita magnética ia procedendo aos registos sonoros. Depois, enviava a bobine através dos CTT. Ainda guardo alguns presentes que as amiguinhas estrangeiras me ofereciam, os quais recebia também pelo correio.
Era tão giro! Mas aquilo dava uma trabalheira, amiga!
Beijinhos
António
Nostalgia da boa! ;)
Kiss
Confuskos, o tempo e a alturas certas já passaram. Não trabalho na rádio por não ter tempo mas porque ós candidatos são muitos e mais jovens.
Gata, hoje em dia é capaz de ser assim. Há vinte anos atrás ninguém ligava ao aspecto físico. A voz era a nossa ferramente de trabalho daí que, e muito bem, era o mais importante. Aliás, recordo-me de certo dia um homem ter ido à rádio oferecer-me flores porque, dzia ele, tinha-se apaixonado pela minha voz. Azareco. Quando me viu apanhou uma desilusão enorme. Ahahahahahah
António, as velhinhas bobines. Penso que os jovens que trabalham hoje em rádio eram capazes de se atrapalharem com as mesas de mistura que existiam nois estúdios. Dois pratos de discos de vinil, um deck de bobines, um deck de cassetes, enfin...uma panóplia de equipamentos que hoje se resolve com um simples computador. Dava trabalho mas era giríssimo.
Essência, e quando é assim vale sempre a pena recordar.
Beijos a todos
Não vás por aí!!
Qualquer rádio de pequena ou média dimensão dava tudo para ter alguém como tu a colaborar com eles!! Agora a Comercial, RFM, Antena 3 e outras, estão, talvez, fora de cogitação!!
Beijinho*
Confuskos, eu falo das rádios de pequena e média dimensão. Ao contrário do que se possa pensar sempre achei mais aliciante as rádios locais ou não tivesse estado intimamente ligada ao processo de legalização das mesmas.
Beijo
Eu compreendo, entre outras coisas, o grau de liberdade é completamente diferente! Nas "grandes", há milhares de horas por ano que ninguém está autorizado a escolher uma música, pois as playlist já estão feitas, os animadores apenas abrem o micro e falam!! Deus nos livre e guarde!! :)
Mas se é assim, é só porque não queres! Pensei que estivesses a esperar para casar as miúdas, criar os netos e essas coisas!! Ah ah ah ah!!! (tu puxas por mim...!) :P
Beijinho*
Fosga-se...
Se estava à espera que as minhas filhas casassem e tivessem filhos bem que podia esperar sentada. Nenhuma delas está com essas ideias, ahahahahah
Não é porque não queira nem porque não tivesse tentado.
Eu tive de matar o bichinho. Um problema de voz cessou a minha curta carreira. Hoje em dia ouço pouca rádio. Mas louvo os profissionais de rádio pelo amor que têm à profissão.
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