segunda-feira, 10 de agosto de 2009

O Fim da Amizade



Hoje tive oportunidade de reler um texto de Pedro Lomba publicado em 27 de Dezembro de 2007 sobre o "fim da amizade". não no sentido literal, mas no sentido em que muitos de nós ainda entendem e vivem a amizade.

Escreveu Pedro Lomba:

"De vez em quando vou recebendo mails de amigos a convidarem-me para fazer parte de redes sociais na Internet. Aceito quase sempre, mas depois não pratico. Redes como o Hi5, o Myspace, o Buzznet, o Hoverspot, o Facebook. São tantos os sites vocacionados para a criação de comunidades virtuais que é fácil perdermo-nos. E todos imensamente populares...

Percebo o sucesso destas redes. Milhões de adolescentes e pós-adolescentes sabem que não há assim muita coisa a que pertencer. As formas de pertença tradicionais (à família, à escola, à igreja) exigiam uma disciplina e uma ortodoxia que a espontaneidade subversiva da época corrompe.

Rapazes e raparigas em idade núbil já se satisfazem com pouco e rejeitam fidelidades. Nada de grupos para ficarem sujeitos a testes e deveres. Em vez disso, as redes sociais oferecem um produto mais apetecível: fazer parte de um mundo informal cujo único mandamento é conhecer gente. How people meet people?, perguntava, acho eu, Lou Reed. No Hi5.

Antes, as pessoas tinham os amigos de infância, da universidade, do trabalho. Eram categorias que espelhavam as nossas amizades em diferentes fases da vida. Agora, as novas gerações têm os "amigos" do Hi5. Sem esforço, um bem sucedido utilizador do Hi5 pode acumular 650 pessoas a que passa a chamar seus amigos.

Na sua Ética a Nicomáco, Aristóteles distinguiu três tipos de amizade, conforme a ideia em que cada uma se fundasse. Existiria uma amizade baseada no prazer, outra na utilidade e outra na virtude, para Aristóteles a amizade mais genuína e duradoura, aquela em que os amigos se uniriam para atingir o bem e a sabedoria. A visão elevada que Aristóteles tinha da amizade não desapareceu. Mesmo se nos fomos tornando cínicos, temos esperança de que a amizade possa ser uma espécie de amor moral. Não um amor por dever ou respeito, como o que se tem pelos pais ou pelos filhos, mas um amor que se forma na simples admiração por outra pessoa. Um amor realista e altruísta. Um amor que não depende de nenhuma idealização, de nenhum desejo. Um amor que nasce de uma espécie de consciência. É a nossa maior e mais promissora ambição para a amizade. As redes sociais como o Hi5 prescindem da amizade como uma experiência de dedicação admirativa em favor da obsessão doentia por conhecer e acumular pessoas. É óbvio que alguém que junta 500 "amigos" não acredita na amizade. Encheu a agenda, mostrou a sua agilidade e ficou na mesma. E a amizade só pode ser para levar a sério, senão não vale a pena."


Devo dizer que subscrevo, na íntegra, esta reflexão.

Costumo dizer que a família não se escolhe. Os amigos, sim! Talvez, por isso, os meus amigos cabem todos nos dedos de uma simples mão.

Mas os meus verdadeiros amigos sabem que podem contar comigo em qualquer circunstância.

Provavelmente o meu conceito de amizade está caduco. Mas será este conceito que irei preservar até ao fim...



14 comentários:

Abobrinha disse...

Linda

Acho que esta é uma reflexão cínica demais sobre as gerações mais jovens e como no nosso tempo é que era bom.

As redes sociais e os blogues são maneiras de conhecer pessoas. Algumas que não conheceríamos de maneira diferente. E põem desafios diferentes.

Eu chamo "amigo" a pessoas completamente diferentes. Eu chamo "primo" a pessoas completamente diferentes (apesar de haver um laço de sangue idêntico). É dentro de nós que fazemos a distinção. E os putos mais novos sabem perfeitamente a distinção entre os diferentes tipos de amigos. E se não sabem, aprendem. Dia após dia, ano após ano. Como nós. Como todas as gerações anteriores.

NI disse...

Tenho consciência que com as últimas coisas que me têm acontecido estou a ficar cínica.

Mas não sou daquelas pessoas que dizem "no meu tempo é que era bom". Felizmente, acrescento eu.

Ainda pertenço àquelas pessoas que acreditam nas gerações mais novas. Mais, ainda, penso que os desafios que as gerações mais novas têm, apesar de todo o avanço tecnológico, não são menores que os desafios que a minha geração teve que enfrentar.

Já na Grécia antiga alguns filósofos previam o "fim do mundo" devido aos devaneios das novas gerações. No fundo, em todas as sociedades, sempre existiram os "velhos do restelo".

Creio, contudo, que em matéria de relações humanas, há alterações profundas que não abarcam apenas as novas gerações mas toda a sociedade.

Há poucos dias assisti a uma conversa entre duas pessoas da minha geração. Ambos reivindicavam maior número de "amigos" no facebook.

O texto de Pedro Lomba será porventura redutor quando apenas restringe esta nova postura às novas gerações. Mas que há uma mudança nos conceitos, transversal a toda a sociedade, isso existe. Pelo menos é a minha opinião.

Abobrinha disse...

Cada geração tem os seus desafios. Cabe à geração anterior ajudar só, com a experiência do que era no seu tempo.

Fazer uma nova geração já por si só é um acto de fé.

Abobrinha disse...

... e agora entra o Sadeek a dizer que fazer uma nova geração também é muuuuuuuuuuito bom!

NI disse...

Um acto de fé e, acrescento, sem recriminações.

:-)

NI disse...

O Sadeek a esta hora está a entrar mas...esquece. Queria dizer que a esta hora ele nunca está nos "blogues", ahahahahah

Eu Mesma! disse...

Em primeiro lugar eu adoro esta musica...

em segundo lugar....
os meus amigos fazem parte de mim... fazem parte da minha familia são os meus pilares...

são aqueles que estiveram ao meu lado nos bons e nos maus momentos... e eu estive ao lado deles em todos os momentos e ... os laços que foram criados nem o tempo nem a distancia os apaga....

uma amizade incondicional demora tempo e estrutura a ser criada..... e não há tempo... nem disposição para criar muitas mais....

por isso costumo dizer que já tenho amigos suficientes não preciso de mais...

NI disse...

Eu Mesma,

Em primeiro lugar, eu adoro esta música...

Em segundo lugar, concordo contigo e, à cinco meses atrás tinha os amigos suficientes e que desejava.

:-)

Cristina disse...

Amigos...pffff... essa raça! ;)

Há muitos anos, ainda eu fazia festas de aniversário, convidava com duas semanas de antecedência cerca de duas dezenas de pessoas para a minha festa.

Hoje, dessa vintena, relaciono-me com 2/3 pessoas... quero com isto dizer, que há amizades simbólicas. Aquelas que têm importância em determinados períodos das nossas vidas, mas que nem sempre permanecem nelas.

E depois, há medida que os anos avançam, vamos conhecendo pessoas que se tornam nos amigos mais improváveis. Há poucas semanas, uma das minhas colegas de trabalho, dirigindo-se a mim, chamou-me "amiga"... conhecemo-nos apenas em circusntâncias de trabalho, contudo considera-me uma amiga...

Sinceramente, para mim, é tudo muito confuso!

Beijinhooooo

NI disse...

Tu estás confusa?

Olha, pois eu estou velha demais para entender algumas coisas...

:-)

Beijo

Cristina disse...

É das nossas madeixas louras, deixam-nos meio-tolitas ;)

NI disse...

Qual madeixas, qual quê.

Finalmente assumir que estou velha e deixei os meus lindos cabelos brancos vencer os castanhos :-)))

VCosta disse...

OS amigos são como os grandes amores, podem ser mais que um mas são raros encontrá-los!!!
No fundo, quase no fundo, quase nenhum de nós os tem realmente (e infelizmente)!!!

NI disse...

Começo a acreditar nisso...

Mensagens

Arquivo do blogue


Porque não defendo:guetos, delatores pidescos, fundamentalismos e desobediência civil. Porque defendo o bom senso