Imagem do Arquivo da RTP
Tinha acabado de fazer nove anos.
Estava
nas aulas quando vieram avisar a professora de que tínhamos todos de ir para
casa. Tínhamos que ir rápidos e sem falar com ninguém.
A
imagem que retenho é de me estar a aproximar de casa e ver a minha mãe na
janela do quarto a dizer para ir mais depressa.
Cheguei
a casa. A minha mãe olhou para mim e disse-me: "Filha, se tudo correr bem,
o pai vem para casa."
Não
retirámos os olhos da televisão sempre à espera de ver a cara dele à saída
daqueles portões.
Só
o veríamos no dia seguinte.
Nasci
antes de ser implementada a democracia.
Vi
nascer a democracia.
Assisti
à união dos portugueses para manter a democracia.
Vibrei
com os sorrisos das pessoas no primeiro acto eleitoral pós 25 de Abril.
Não
contive as lágrimas quando votei pela primeira vez.
Partilhei
os sacrifícios quando da intervenção do FMI em 1977 e 1983, e, quem diria, com
a troika em 2011.
Convivi,
nos últimos anos, com o egoísmo, o individualismo, a ausência de ética
profissional, a falta de "coluna vertebral", a ignomínia, a
corrupção, a cunha, a protecção e a elevação de "boys e girl´s" em
detrimento da qualidade profissional.
Hoje
vejo uma classe média a lutar para chegar o fim do mês sem qualquer ajuda ou
apoio em contraponto com uma pseudo pobreza acomodada e um número crescente,
mas restrito, de milionários.
Hoje,
continuo a questionar-me se este é o País pelo qual o meu pai e milhares de
portugueses lutaram.
Questiono-me
quando vejo a forma como as pessoas banalizam a liberdade. Essa mesma liberdade
que custou a prisão e a morte de muitos que por ela lutaram.
A
música de hoje? Várias. Do Poeta da minha terra. Adriano Correia de Oliveira.
1 comentário:
Tenho mais 11 anos que tu, fiquei a saber :)... e perfilho do que aqui dizes, Ni !... e também do Adriano !!!
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