"Sim, eu sou um homem e choro.
Um homem não tem olhos ?
Não tem também mãos, sentidos, inclinações, paixões ?
Porque é que um homem não devia chorar?"
August Strindberg
Muitas vezes ouvimos a expressão "homem não chora". Ou, melhor ainda, "O homem também chora".
O problema começa logo com a utilização do advérbio "também".
Quando alguém utiliza tal expressão recuo aos tempos em que minha mãe enaltecia a beleza física de uma das minhas irmãs dizendo, mais ao menos isto: " a ... é muito bonita mas a... também é, minha rica filha".
Pois...
As mulheres choram. E os homens também. Como se fosse uma característica alternativa de compensação.
Mas porque raio não haviam de chorar? São alguns seres especiais feitos de uma liga de carbono desconhecida?
Devo confessar que não entendo essa aculturação bacoca do homem feito argamassa. Mais a mais, porque eles estão convencidos que é isso que uma mulher (e, já agora, a sociedade em comandita), espera deles.
Se uma mulher quisesse um ser artificial arranjava um boneco de borracha (espero que não tenham feito apenas mulheres de borracha para gáudio dos meninos).
Não entendo como podem pensar que são mais atractivos aos olhos das mulheres demonstrando que não têm sentimentos ou, pior ainda, que não os conseguem demonstrar.
Um homem, que se preze, chora. Chorar não é sinónimo de fraqueza. Chorar significa que é um ser vivo e que sente pelos cinco sentidos.
Um homem que não chore, não é um ser forte. É um ser incompleto porque manifesta incapacidade de demonstrar o que verdadeiramente sente.
Não se está aqui a falar do choro "simulado", para obter algum benefício, tal qual uma criança mimada. Mas de chorar porque sente uma perda, uma dor, uma saudade...
E o que se diz para o choro diz-se para a partilha. Os homens nunca têm problemas e se os tiverem há que os ultrapassar. Mas...sózinhos. Porque razão haviam de partilhar o "fardo"?
Se é assim porque raio não vão para uma ilha deserta? Assim não partilham o "fardo" com ninguém.
Ainda dizem que as mulheres são complicadas...
Já agora, quando virem um menino de cinco anos a chorar, não digam que homem não chora. Deixem-no sentir. Perante ele e perante os outros.