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Hoje fiquei em casa sozinha e tenho aproveitado para arrumar papéis que se foram acumulando com o passar silencioso dos dias.
Entre os papeis está uma das melhores prendas que recebi no ano passado. Uma mensagem num postal de natal.
Uma mensagem que dei como uma certeza para sempre.
Mas o que é isso de "para sempre"? Algo imutável? Uma certeza irrefutável e infinita?
É que hoje aquela certeza não passa de uma simples mensagem escrita. De uma intenção que não se concretizou.
Ou ter-se-á concretizado e, hoje, não passa de um simples recordação?
Mas está escrito "para sempre". Tenho a certeza. Terá sido um erro de escrita? Uma mentira?
Penso que não...
O "para sempre", independentemente das mudanças e da transposição silenciosa dos dias, apenas significou "para sempre na memória"...
E como hoje estou numa de recordações, aqui fica um texto de Vinicius sobre a amizade. Não aquela amizade que fica na memória mas aquela que cresce todos os dias...
"Preciso de um amigo para não enlouquecer, para contar o que vi de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade.
Deve gostar de ruas desertas, de poças d´água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.
Preciso de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já tenho um amigo.
Preciso de um amigo para parar de chorar. Para não viver debruçada no passado em busca de memórias perdidas.
Que bata nos ombros sorrindo e chorando mas que me chame de amigo, para que eu tenha consciência de que ainda vivo."
Vinicius de Moraes