Porque continuamos juntos?
Esta questão é tão mais relevante se considerarmos que somos a antítese um do outro.
Ele ponderado, eu impulsiva.
Ele racional, eu emocional.
Temos uma relação normal mas muito longe da perfeição. A nossa relação nunca foi fácil. Feitios opostos conduzem, inevitavelmente, à discussão, a dizer coisas que não sentimos realmente. A magoarmo-nos mutuamente com palavras que perdem todo o sentido mal são proferidas.
Porque continuamos juntos?
O início da nossa relação foi tudo menos perfeito.
No dia que nos conhecemos foi uma antipatia mútua. Achava-o prepotente. Ele nunca me confessou o que achou de mim quando me conheceu naquela manhã de Setembro.
E a antipatia manteve-se por mais um par de meses.
Ele era o técnico de som que assistia os meus programas. Ele não deixava passar uma oportunidade para me criticar. Cheguei a pedir para mudar de horário só para não ter que olhar para ele.
Não sei explicar porquê mas, em Dezembro, tudo mudou.
A verdade é que 5 meses depois estávamos casados. Contra tudo e contra todos. Casamos contra a vontade das famílias. Casamos contra o cepticismo dos amigos. Casamos apenas com a convicção de que era o que nós queríamos.
Porque continuamos juntos?
Escrevi uma vez que, para mim, o amor é algo tranquilo, sereno e ao mesmo tempo forte e sólido, que não depende do humor nem do desejo e não está sujeito a chuvas e trovoadas, que sobrevive à rotina, à convivência, às crises financeiras, aos problemas materiais, físicos, familiares, de trabalho. Afirmei que amar também é admirar, conviver, conhecer, partilhar, participar, dividir e aceitar.
Porque continuamos juntos?
Nunca fomos, nem somos, um casal perfeito (nem acredito que tal exista). Mas não duvido que gostamos muito um do outro.
Mas, acima de tudo, sempre fizemos questão de ultrapassar as crises. Porque ambos, ao longo da vida, tivemos que lutar por aquilo que queríamos. Nunca ninguém nos deu nada.
Sei que não sou uma pessoa fácil. Ele também não o é. Mas ambos nos recusamos a aceitar o caminho mais largo e curto.
Por duas ou três vezes quase apeteceu a ambos desistir. Mas, ao olhar um para o outro, facilmente chegamos à conclusão de que valia a pena lutar. Porque valia a pena lutar por aquilo que sentíamos. Porque valia a pena optar pelo caminho mais difícil: toleramos, perdoamos, cuidamos e esperamos.
Porque não subestimamos o poder de um ombro amigo, de um carinho, de um olhar honesto, de um sorriso cúmplice.
Porque ambos somos amigos incondicionais, cúmplices e leais. Porque vale a pena fazermos a caminhada juntos.
Gosto de pensar que isto é o verdadeiro amor.
Alguém disse que a vida apresenta-nos milhares de pessoas e cada uma delas cumpre um papel na nossa vida. Ele cumpre o papel do meu companheiro incondicional.
Porque continuamos juntos?
Porque somos a antítese um do outro, logo completámo-nos.
Não me arrependo da opção que fiz naquele dia 30 de Maio.
E fico feliz por o ter ao meu lado há 21 anos.